Me acho no labirinto místico da dura poesia concreta de tuas esquinas e coro. Encontro a deselegância discreta de tuas meninas enchendo bares de almas vazias e choro. Muito me lamento deste tempo que passo aqui preso em casa fugindo do medo e arrebento meu coração no teu em segredo. São Paulo, eu preciso de ti.

Porque na loucura recente desta pandemia solitária eu vi: o meu rosto enlouquecido de anti narciso apenas achando belo o que não é espelho, e a mente que apavora o que o tempo devora, e a saudade que aperta tuas oficinas de florestas onde os deuses da chuva reclamam dos cantores baianos e da tua garoa.

Estou fechado no medo, mas sei que ainda existes, que ainda tens alegria onde os grafites gritam e nem quero nem pensar que um dia possas adormecer antes do avesso das cores vivas da madrugada morrerem na luz.

Não quero perder essa linda frase que descreve o postal doce que não se atreve mais a ser nosso. Vou à janela e espreito a nossa rua quase sem vida pela vidraça e esbarro na academia fechada no meio da praça e nessa igreja infiel que não abre as portas à nossa oração.

É aqui que eu rezo com Alma Caetano e canto um lamento de Fala Crioulo — São Paulo é um buquê de flores vivas, num lindo arranjo, arranjo lindo feito pra nós. Nem dá pra descrever.

Também deste lado do mar oceano eu te procuro, tua vibe gris, teu amor prematuro; não há paixão possível no mundo sem tuas divindades. Tremo de temor de não mais te encontrar —Sampa — te sinto a falta a cada momento, mulher marginal de pinheiros jardins, avenidas paulistas, raízes de mim. São Paulo porque eu não sei de você?

Mas em direto na tela boa da Band, no debate viral da CNN ou no jornal nacional da Rede Globo, eu logo te encontro. Nas duas nuvens brancas por cada escombro que repórter de máscara conta, nas dores do povo oprimido nas filas, vilas e favelas gritando pela e contra a força da grana que ergue e destrói coisas belas.

É contra este vírus que mata que hoje eu escrevo. Pelo sorriso e a alegria dos amigos que há tempos não vejo. Pelas ruas de Sampa, pelas praias do Rio, nos bancos de memórias no bairro vermelho e em palácios de alvoradas. Tenho saudades fraternas de ti meu Brasil.

Quando essa coisa acontece no meu coração, quando se cruzam o Ipiranga e avenida São João, eu sou feliz. Tão feliz que nem arrisco reparar na feia fumaça que sobe apagando as estrelas, mas sei que cada esquina é um gole de vida. Aqui vamos todos pro céu.