Como está provado que neste País não é necessário diploma para ser formado (basta lembrar que a ministra Damares se considera mestre em educação e o astrólogo Olavo se diz professor de filosofia), hoje serei pesquisador médico.

Apresentarei uma síndrome que detectei, batizei e passo a documentar. É a síndrome Leão-Girafa ou SLG. Uma condição que afeta, em menor ou maior escala, políticos de todo o mundo. Suspeito tratar-se de uma enfermidade transmitida por uma bactéria comumente encontrada nos carpetes dos congressos e parlamentos nacionais.

Para ilustrar os sintomas da SLG e justificar sua denominação, vai aí uma antiga historinha.

Certo dia, na floresta, a girafa e o leão estavam conversando.

– Leão, você já notou como os humanos são esquisitos?

– Por que, girafa?

– Porque não olham para frente! Ficam só olhando para cima o tempo todo.

O leão coça a juba, pensando, e responde:

– Caraca, girafa, isso eu nunca reparei. Mas o que sempre me chamou a atenção é que estão sempre gritando e correndo.

Explico aos que não entenderam: a SLG é a síndrome na qual o sujeito torna-se incapaz de enxergar o mundo por outro ponto de vista que não seja o próprio.

A compreensão da realidade, das coisas e dos fatos daquele acometido por essa condição torna-se distorcida, limitada e/ou equivocada. Quando você conhece um portador de SLG, é comum uma reação de incredulidade a tudo que diz o infeliz.

Há até quem ache que o sujeito é tapado ou mal-intencionado. Não se engane. O pobre sofre de SLG, algo comum a qualquer governante do mundo. No Brasil é pior. Talvez alguma vocação essencialmente política transforme Brasília num verdadeiro caldo de cultura dessa bactéria.

Nosso presidente é um ótimo exemplo de portador de SLG. E antes que você, bolsonarolavista enfie na minha cara um “E o Lula, hein? Hein?”, já adianto que o presodente (trocadilho infame intencional) sofre do mesmo mal.

Uma vez contaminado, não existe tratamento conhecido para a SLG. Lula, dentro de seu aquário petista, insiste que os brasileiros — exceto seus inimigos políticos e parte do Judiciário — clamam por sua liberdade, enquanto nós, brasileiros SLG soronegativos, assistimos com absoluta incredulidade os sintomas de sua doença avançarem.

Enquanto isso, nosso atual mandatário quase que diariamente impõe alguma de suas interpretações contaminadas pela SLG sobre o Brasil, o mundo, a economia, a moral e por aí vai.

Na semana passada, o presidente compartilhou um texto onde o autor afirma que é impossível exercer a presidência no Brasil, já que quem ocupa o cargo precisa conviver com as pressões constantes e conflitantes da sociedade, dos militares, dos empresários, dos políticos etc. Seríamos “ingovernáveis”. Como se fosse diferente em qualquer outra parte do mundo.

A SLG do presidente vem de longa data. No inicio de sua carreira, numa entrevista, afirmou que o Congresso também não servia para nada, sugerindo que fecharia a instituição se um dia desses fosse eleito. É a SLG avançada que faz essas coisas.

O paciente passa a acreditar que suas limitações são, na verdade, virtudes comuns a qualquer outro indivíduo. Mas o que mais me preocupou foi o fato de Bolsonaro divulgar um vídeo onde o pastor Steve Kunda afirma que foi Deus quem o escolheu para presidente. Segundo o religioso, temos que apoiar o nosso messias, pois o Criador quer assim. Me dei conta que a bactéria causadora do SLG se espalhou e não vive mais apenas no carpete do nosso Congresso, mas também em alguns templos.

Temo por uma pandemia.

Bactéria que habita os carpetes de Brasília faz vítimas acreditarem que suas limitações são, na verdade, grandes virtudes. O mal é incurável e atingiu Bolsonaro e Lula há tempos