Aos seis anos, Felipe Nunes teve sua vida mudada após um acidente que o fez perder suas duas pernas. No skate, encontrou uma forma, além de locomoção, para se expressar socialmente. Hoje com 23 anos e uma carreira no esporte já trilhada, o curitibano recebeu destaque no clipe da nova música da banda Metallica: “Too Far Gone”.

“Muito longe. Estou muito longe? Estou longe demais para salvar? Ajude-me a passar o dia”. O refrão do single da banda americana – como o restante da música – é composto por cenas de manobra do skatista paranaense. Sua história de superação, que já recebeu destaque de marcas como Monster e Banco do Brasil, impressionou James Hetfield, Lars Ulrich, Kirk Hammett e Robert Trujillo, integrantes da banda, que convidaram o atleta para participar da produção.

“Na hora que recebi o convite, foi surreal. Achei que fôssemos gravar juntos, pessoalmente, mas não deu certo”, conta Nunes ao Estadão. A música foi lançada há quatro meses, mas o novo videoclipe, com o skatista, foi publicado somente nesta semana nos canais oficiais da banda dos EUA. Sua história inspiradora é registrada ao longo do videoclipe, no qual é possível ver, além de imagens inéditas do skatista, a evolução do atleta ao longo dos anos.

“Gravei a parte das manobras e eles gravaram, separadamente, a parte do show.” Nunes não se encontrou com o quarteto do Metallica antes ou após as gravações, mas pensa em realizar este sonho em um futuro breve. “Quero agradecer aos caras pessoalmente por este privilégio. Ter a minha história representada é maravilhoso, para poder impactar mais pessoas e mostrar que todo trabalho árduo é recompensado.”

Assim como tantos outros atletas já afirmaram, Nunes acredita que, ao ter sua história mostrada no clipe, é uma forma de apresentar para as pessoas um outro lado do skate. “É uma maneira de expandir as mentes das pessoas, para outras possibilidades além das manobras.”

MEIO DE LOCOMOÇÃO

Nunes se acidentou aos seis anos de idade. Com os amigos, o curitibano foi à linha de trem, com a ideia de subir em cima de trens abandonados e em movimento. O risco era grande de se machucar. “Não deu certo, mas a minha vida continuou normal, mesmo sem as pernas.” Com a cadeira de rodas, ele continuou com as vivências de uma criança de sua idade, jogando bola e andando de bicicleta.

“Ter perdido as pernas não me impediu de nada. Rindo e brincando com os meus amigos”, conta. Os primeiros contatos com o skate vieram quando Nunes completou 12 anos. Na adolescência, ele deixou a cadeira de rodas de lado e passou a utilizar a prancha como meio de locomoção. “Com o tempo, conheci outros skatistas e tive a enorme vontade de aprender as manobras.”

Uma década depois, Nunes já tem o caminho trilhado no esporte. Participando de campeonatos e em encontros com amigos, o skatista evoluiu e consolidou sua carreira no skate – tanto na modalidade clássica quanto na de atletas amputados. Em 2021, foi eleito skatista do ano pela Confederação Brasileira de Skate (CBSK) e conquistou um 4º lugar no X-Games, na categoria de melhor manobra; no ano seguinte, conquistou múltiplos troféus no Dew Tour.

Com sua história impulsionada pelo Metallica, o brasileiro agora sonha com os Jogos Paralímpicos, mas a modalidade de skate ainda não foi incluída na competição. Ele é apadrinhado por Tony Hawk desde que se tornou profissional no skate em 2021 – faz parte do Birdhouse Skateboards, marca do lendário skatista.