As tréguas entre o governo e algumas facções criminosas não ofereceram alívio humanitário na Colômbia, devido a uma “intensificação” dos confrontos entre grupos ilegais que disputam territórios, afirmou o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) nesta quarta-feira (3).

“Apesar da esperança, do otimismo devido às negociações em curso, a situação humanitária não melhorou substancialmente”, afirmou à imprensa Lorenzo Caraffi, responsável pela delegação do CICV no país, durante a apresentação de um balanço de violações do Direito Internacional Humanitário (DIH) em 2023.

No ano passado, o presidente Gustavo Petro declarou tréguas com guerrilhas como o Exército de Libertação Nacional (ELN), o Estado-Maior Central (EMC) e a Segunda Marquetalia, as duas últimas dissidências das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) que rejeitaram o acordo de paz de 2016.

E também com o grupo paramilitar Autodefensas Conquistadoras de la Sierra Nevada e por alguns meses com o cartel Clã do Golfo, um cessar-fogo que foi quebrado por ataques a civis e militares.

Segundo Caraffi, os confrontos entre o poder público e estas organizações foram reduzidos “radicalmente”, mas a guerra entre grupos à margem da lei que tentam ocupar áreas essenciais para negócios como o tráfico de drogas e o garimpo ilegal continua afetando as comunidades.

“Os enfrentamentos se intensificaram entre grupos armados para o controle territorial” e “é a população civil que carrega as consequências maiores”, acrescentou, classificando a situação como “preocupante”.

O CICV calculou 444 supostas violações do DIH em 2023, destacando ameaças, abusos sexuais, recrutamento de menores e o uso de artigos explosivos.

De acordo com o relatório, houve também um aumento do confinamento da população devido aos confrontos (19%) e dos deslocamentos individuais (18%) em relação ao ano anterior. Em contrapartida, o número de vítimas de explosivos caiu 27%.

Com as tréguas, Petro mantém negociações de paz com o ELN e o EMC, e anunciou conversas com a Segunda Marquetalia.

A oposição critica a lentidão dos diálogos e um excesso de concessões do governo aos grupos armados. Pesquisas independentes indicam que algumas destas organizações estão aumentando o seu número de membros.

O CICV solicitou que as partes em negociações “adotem acordos especiais” para proteger o Direito Humanitário Internacional.

“Pedimos que incluam as preocupações humanitárias como um ponto fundamental nas agendas”, ressaltou Caraffi.

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