ROMA, 18 ABR (ANSA) – Após o ultimato da Rússia ser ignorado por militares e milícias ucranianas em Mariupol, a cidade sitiada desde o início da guerra tem cada vez mais controle das tropas russas.   

Nesta segunda-feira (18), um dos assessores da prefeitura, Petro Andryushchenko, afirmou que entrou em vigor um sistema de “passes” que permite a entrada e a saída da cidade e que os homens que permanecem na localidade “serão controlados para serem realocados”.   

Segundo mensagem confirmada de maneira independente pela CNN, também mulheres e idosos precisarão do passe para andar na cidade. Ele ainda publicou uma foto de centenas de pessoas em uma fila para conseguir o “documento”.   

Um dia antes, Andyushchenko havia alertado que sem o passe “será impossível se deslocar pelas ruas nas próximas semanas”.   

A Rússia afirma que há cerca de 400 combatentes “estrangeiros” na siderúrgica Azovstal e que todas as forças ucranianas foram “varridas” da cidade. Entre eles, estariam os membros do batalhão ultranacionalista Azov, que tem uma vertente neonazista bastante conhecida.   

No entanto, o chefe da polícia Mariupol, o ucraniano Mykhailo Vershinin, afirmou ao portal Ukinform que “um grande número de civis” está escondido no local, incluindo mulheres, idosos e crianças.   

“Há também recém-nascidos. Essas pessoas se esconderam dos bombardeios no depósito da planta”, disse Vershinin, acusando os russos de usarem os cerca de 100 mil civis que permanecem presos na cidade para “escavar entre os escombros e recuperar os cadáveres”.   

“O Exército russo está buscando cancelar os traços dos seus crimes”, pontuou ainda.   

Conforme o chefe da polícia, os cidadãos foram obrigados a usar faixas brancas na perna direita e no braço esquerdo, a mesma identificação usada pelas milícias pró-Rússia que atuam na região de Donetsk e estão lutando ao lado dos militares de Moscou na cidade.   

“Marcando os civis dessa forma, eles levam a população local para o meio do combate. Assim, mandam pessoas em áreas que podem ser atacadas, onde poderão morrer”, disse ainda.   

Crianças raptadas – A ONG Grupo de Direitos Humanos da Crimeia denunciou que 150 crianças foram retiradas à força de Mariupol e levadas para áreas controladas pelos russos em Donetsk e em Taganrog.   

Dessas, 100 estavam internadas em um hospital, sendo a maioria retirada contra a vontade dos pais. Outras 16 estavam em um centro de bem-estar para os menores. Andryushchenko também falou sobre o caso e disse que esse grupo não era órfão – assim como a ONG.   

“Os órfãos, junto com a equipe do orfanato, foram evacuados de Mariupol em 24 e 25 de fevereiro pelos ucranianos”, confirmou o Grupo.   

Kiev vem acusando as tropas russas de raptarem ou forçarem milhares de cidadãos a abandonar a cidade, que vive uma gravíssima crise humanitária.   

Conforme o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, cerca de cinco mil crianças foram “deportadas” da região de Mariupol desde o início da guerra.   

“Cerca de cinco mil crianças foram deportadas dessa área para a Rússia porque os russos não permitiram que eles fossem para qualquer lugar da Ucrânia. Em que local estão essas crianças agora? Ninguém sabe”, disse Zelensky à CNN.   

Andryushchenko ainda afirmou que todos os ucranianos que trabalhavam em área médica “foram deportados” e que Mariupol não têm profissionais do país que possam “fornecer assistência médica ou consultas imediatas”.   

Situada às margens do Mar de Azov, Mariupol é considerada um ponto estratégico para a Rússia por permitir a “ligação” entre as áreas separatistas de Donetsk e Lugansk com a península da Crimeia, anexada unilateralmente em 2014. Além disso, tem um valor simbólico, já que é uma importante cidade portuária para Kiev.   

Antes da guerra, o local tinha cerca de 400 mil habitantes, mas desde o início do conflito, o local está sitiado por conta da grande resistência das forças ucranianas e das milícias pró-Kiev que impediram que os russos e os grupos milicianos da Chechênia e de Donetsk controlassem a localidade rapidamente. (ANSA).