“O sistema antidoping foi muito reforçado” nas últimas décadas e depende da análise de dados para detectar possíveis trapaceiros, explica o diretor-geral da Agência Internacional de Testes (ITA), Benjamin Cohen, em entrevista à AFP.

Pergunta: Após os Jogos de Tóquio e Pequim de 2020, o ITA administrará o programa olímpico pela terceira vez. Como você encara essas semanas que antecedem os Jogos?

Resposta: “Ainda existem 30 mil atletas potencialmente classificáveis e já estamos ansiosos para ver a lista final para nos concentrarmos nos 11 mil participantes. Certas práticas de doping permitem-nos ter um resultado muito rápido, em testes de resistência ou força, e tradicionalmente o período pré-olímpico é o de maior risco. É o período de preparação, de classificação, o último momento para poder fazer a diferença. Os atletas também sabem que estarão muito controlados durante os Jogos, então espero que seja um número baixo ou nulo de atletas tentados a consumir substâncias na Vila Olímpica de Paris”.

P: Onze dos 23 nadadores chineses que testaram positivo antes dos Jogos de Tóquio pela sua agência e que não foram sancionados por terem sido considerados contaminação alimentar, estarão em Paris. Eles terão vigilância especial?

R: “Esse processo não foi gerenciado pela ITA, mas estamos conectados à comunidade antidoping e levamos isso muito a sério. Com a Federação Internacional de Natação decidimos reforçar o programa antidoping desses atletas e, acima de tudo, aumentar os controles realizados fora da China, sem o envolvimento de qualquer autoridade do país, para passar a mensagem à comunidade internacional da natação: estamos lá, controlamos estes atletas como os outros e de forma totalmente independente.

P: Apenas os medalhistas são sistematicamente controlados nos Jogos. Como são detectados outros atletas que precisam ser controlados?

R: “Analisa-se a disciplina – sua fisiologia, sua farmacologia, quais substâncias eles podem se sentir tentados a tomar -, depois a delegação – a história do país com o doping, possíveis violações do código antidoping -, e por fim cada atleta: o evolução dos seus resultados, os perfis talvez suspeitos dos seus passaportes sanguíneos, controles antidoping suspeitos… Existem centenas de milhares de dados recolhidos para nos concentrarmos nos atletas e disciplinas de maior risco, embora vamos cobrir todos os esportes.

P: Entre agora e Los Angeles-2028, como você acha que evoluirá a luta antidoping?

R: Teremos feito muitos progressos na análise de dados, a inteligência artificial terá feito enormes progressos, não trabalharemos mais em pedaços de papel como na idade da pedra. O nosso departamento de investigação também terá feito grandes progressos, fortalecendo as nossas relações com a polícia. E estamos trabalhando em métodos de coleta bastante inovadores, com drones para ir mais rápido, porque a logística ainda é um ponto muito complicada.

P: Entre as substâncias ainda mal detectadas e os recursos de alguns atletas, a polícia antidoping está condenada a ficar atrás do trapaceiro?

R: “Nos últimos 25 anos, o sistema antidoping foi muito fortalecido e a possibilidade de um atleta se dopar foi drasticamente reduzida. Sabemos que os métodos evoluem, que se fala em doping genético e tecnológico e muitas outras coisas que a ciência permite o desenvolvimento, mas é também por isso que guardamos as amostras durante dez anos e podemos voltar atrás.”

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