Símbolo da violenta e sangrenta guerra que devasta a Síria, as imagens de um menino ferido pelos bombardeios russos e do regime sobre Aleppo provocaram nesta quinta-feira uma grande comoção nas redes sociais.

As imagens amplamente compartilhadas desde quarta-feira à noite mostram um menino de 4 anos sentado sozinho em uma ambulância, com o rosto coberto de poeira e sangue, atordoado com a força da explosão causada pelo bombardeio.

Registradas durante um bombardeio quarta-feira à noite no distrito rebelde de Qaterji, vídeos e fotos do pequeno Omran rodaram o mundo causando indignação na internet.

Mas a guerra não conhece trégua nesta metrópole do norte da Síria, onde o regime e os rebeldes disputam o controle total da cidade dividida desde 2012.

No território, ambos os lados não conseguem avançar.

O regime não foi capaz de recuperar o terreno perdido há quase duas semanas e os rebeldes não concretizaram a sua promessa de tomar toda a cidade.

Assim, um site pró-regime anunciou nesta quinta-feira que as forças do governo tinham tomado dois vilarejos rebeldes perto de Aleppo, mas sites da oposição imediatamente negaram tais informações.

De acordo com uma fonte, o exército multiplica as incursões em áreas rebeldes para testar as linhas de defesa e matar o maior número de insurgentes antes de se retirar para evitar ter muitas vítimas em suas fileiras.

Pausa humanitária semanal

Em 31 de julho, os rebeldes e seus aliados extremistas da Frente Fateh al-Sham (ex-Al-Nosra) lançaram uma ofensiva para quebrar o cerco imposto sobre as áreas rebeldes pelas tropas de Bashar al-Assad.

Cada lado tenta cercar e sufocar o outro sem sucesso até o momento: os rebeldes conseguiram abrir uma passagem para o sul pelo bairro de Ramoussa e o regime pelo norte.

Os 28 países-membros da UE exigiram nesta quinta-feira um “fim imediato” dos combates em Aleppo, a fim de não atrapalhar os serviços de socorro e as operações humanitárias.

A Rússia anunciou estar disposta a instaurar “a partir da próxima semana” uma pausa humanitária semanal de 48 horas que envolve tanto os bairros do leste de Aleppo, sob controle dos rebeldes, como os do oeste, controlados pelas forças governamentais, utilizando duas rotas diferentes para o reabastecimento.

O anúncio foi agradecido pelo emissário da ONU para a Síria, Staffan de Mistura.

Ao mesmo tempo, “aviões russos realizam dezenas de ataques todos os dias na província de Idleb e a oeste da província vizinha de Aleppo para evitar o envio de reforços para as posições rebeldes ao sul de Aleppo”, informou à AFP Rami Abdel Rahman, diretor do Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH).

“Os rebeldes colocaram toda a sua força nos combates e as forças do regime estão esgotadas”, disse Abdel Rahman.

Segundo ele, apesar da vantagem que significa a Força Aérea para o regime e o apoio aéreo russo, os ataques “não parecem muito eficazes” posto que se luta muito de perto. O regime não consegue recuperar suas posições das mãos dos rebeldes.

Nesta quinta, os ataques aéreos do regime sírio continuavam nos bairros do leste de Aleppo, onde 146 civis, incluindo 22 crianças, morreram desde 31 de julho.

Primeiros ataques do regime contra os curdos

Desencadeada em março de 2011 pela repressão de protestos pró-democracia, o conflito na Síria tornou-se mais complexo com a intervenção estrangeira e o fortalecimento dos extremistas. A guerra deixou mais de 290.000 mortos e forçou milhões ao exílio.

Nesta quinta-feira, aviões do regime atacaram pela primeira vez áreas controladas pelas forças curdas, que até então mantinham uma posição neutra no conflito, de acordo com OSDH.

Os ataques aéreos apontaram para três barragens e vários quartéis-generais na cidade de Hassaka (nordeste). Dois terços desta localidade estão sob o controle das forças curdas e o resto, do regime, o que tem gerado tensões recorrentes.

Os combates nessas áreas causaram a morte desde quarta-feira de 16 pessoas, entre elas 7 civis, segundo o OSDH.

“Não podemos permitir que eles (os curdos) acreditem em seus sonhos de autonomia como uma realidade”, disse à AFP uma fonte da segurança síria.

Os curdos da Síria (15% da população) auto-proclamaram em março uma “região federal” e sonham em ligar as áreas sob seu controle no norte.

Na frente de combate contra o grupo extremista Estado Islâmico (EI), Moscou bombardeou suas posições em Deir Ezzor (leste) com 18 aviões que saíram da Rússia e do Irã.