Sinto falta dele em todos os momentos

Sinto falta dele em todos os momentos

Natália Mestre, da Capadócia (Turquia) e Jerusalém (Israel) Fotos Eny Miranda/Cia da Foto O cenário é a bela região da Capadócia, na Turquia. Em uma noite decéu estrelado em meio à geografia particular da região, no interior de uma casa escavada nas rochas, o silêncio da natureza é interrompido pela canção ?A Noite do meu Bem?, de Dolores Duran. Brasileiros e turcos ouvem emocionados Malga di Paula, a viúva de Chico Anysio (1931-2012), cantar a música que marcou a história do casal. ?Daqui a alguns dias será o aniversário de 14 anos do nosso primeiro encontro?, conta com os olhos cheios d?água. ?A gente se conheceu e depois de 12 dias já nos casamos. Foi uma paixão instantânea?, relembra. Após dois anos se dedicando a cuidar do marido e passados cinco meses da sua morte, Malga está tentando, em passos lentos e dolorosos, retomar as suas atividades. Uma delas é o roteiro turístico intitulado Marcas de São Jorge, uma viagem destinada aos devotos do santo que passa pela Capadócia, Istambul e Jerusalém, visitando os lugares e igrejas por onde ele teria passado. A ideia desse projeto começou em sua primeira visita à Turquia, em 2007, quando ela entrou em uma das igrejas antigas cavadas dentro das rochas e ficou completamente tocada com a imagem de São Jorge. ?Comecei a chorar e tive a sensação de que estava reencontrando um antigo amigo?, conta ao grupo de brasileiros que fazem a estreia desse roteiro e do qual Gente fez parte. Malga prometeu então que construiria um memorial em homenagem a São Jorge na Capadócia. O memorial já tem desenho e local destinado, mas ainda está para ser construído. No local, apenas uma árvore de pedidos foi plantada. Emocionada, Malga escreveu uma carta em homenagem ao marido e a enterrou na árvore. Sinto falta dele em todos os momentos E como é seguir a vida sem ele? É horrível. Sinto a falta dele em todos os momentos. Até quando estou escrevendo um e-mail lembro dele, porque eu sempre costumava perguntar: ?Amor, como escreve mesmo essa palavra??. E ele me respondia. Sinto falta de ligar para ele e contar como foi o meu dia, do toque, do beijo, do abraço. Na minha cabeça a gente sempre está conversando… A morte é o processo mais agressivo que existe. Como recebeu a notícia da morte dele? Estava esgotada e todo mundo queria que eu fosse para a casa tentar descansar um pouco. De madrugada me ligaram do hospital dizendo que o Chico havia tido uma parada cardíaca. Já saí desesperada, achei que ele estava morto e os médicos não queriam me contar. Quando cheguei lá, a Zélia (Zélia Cardoso de Mello, uma das ex-mulheres do Chico) disse para eu me acalmar que tudo estava sob controle, que ele tinha voltado da parada. Entrei no quarto e tudo parecia tranquilo. Eu fiquei abraçada com ele e pensei que já estava sendo egoísta demais, que ele estava mesmo sofrendo. Disse para ele: ?Vai em paz, meu amor.? Ele então teve outra parada, morreu minutos depois. Tenho certeza que ele voltou para me dar tchau. Para terminar, você pode me contar o que está escrito na carta em homenagem ao Chico que você enterrou no pé da árvore de pedidos para São Jorge? No verso da carta eu desenhei um coração e dentro dele escrevi ?Malga e Chico eternamente?. Na parte da frente fiz uma espécie de lista de agradecimentos por todos os momentos maravilhosos que Ele me deu a honra de passar ao lado dele. Estou com 42 anos, sei que ainda tenho uma vida enorme pela frente e posso viver novos amores, mas acredito mesmo que o Chico sempre será o grande amor da minha vida. Porque sinto que se eu amar alguém mais do que o amei vou explodir. *Leia a entrevista na íntegra na IstoÉ Gente, que está nas bancas a partir desta sexta-feira 12.