Em 1987, o grupo Titãs lotava casas de shows e embalava multidões com os refrões da música “Comida”, composição de Arnaldo Antunes e Marcelo Fromer. Destaco aqui uma parte da letra: “A gente não quer só comida/A gente quer comida, diversão e arte/A gente não quer só comida/A gente quer saída para qualquer parte”. De volta ao presente. O ano é 2021, Jair Bolsonaro é o presidente da República e os brasileiros morrem de fome. Já não é mais possível gritar a plenos pulmões “a gente não quer só comida”, porque o estômago está vazio.

Dezenove milhões de pessoas passam fome no Brasil – isso é mais do que toda a população do estado de São Paulo. Chega a ser impensável que as pessoas estão comprando osso e pé de galinha para se alimentar. É isso ou nada. No entanto, o cenário não mostra perspectiva de melhora.

A comida, que chega a ser raridade em muitas favelas do País, tornou-se também risco de vida. Motivo: com o aumento de 30% no preço do gás, famílias estão improvisando o fogo em casa. Ou seja: as pessoas estão cozinhando com fome e ainda correm o risco de explodirem a si próprias e quem está ao seu redor.

Jair Bolsonaro disse, em 2019, que é “uma grande mentira” que se passa fome no Brasil. Três anos se passaram e a fome continua em escalada no País, nesse ano o Brasil voltou ao mapa da fome. O presidente finge não escutar o roncar de estômagos daqueles que desmentem a sua fala e provam com reações orgânicas que, sim, há fome – e muita – no Brasil.