Amigos, existe uma epidemia no ar.
Uma que a mídia esconde e não é transmitida por mosquitos.
Lembra a Síndrome de Estocolmo, quando o sequestrado cria um vínculo de afeto com o sequestrador.
Só que essa é mais grave. Ao invés de afeto, o ódio.
É a Síndrome do Estádio.
Importante você conhecer para se autodiagnosticar.
Se você já assistiu a um jogo do seu time num estádio de futebol vai reconhecer a metáfora.
Começa o jogo, time e torcida em lua de mel.
O zagueiro grotescamente chuta a bola para o alto.
– É isso aí, Uéslei! Bola pro mato que o jogo é de campeonato!
Todos riem da grossura eficaz do zagueiro.
O meio-campo tropeça, a torcida diz que o gramado está escorregadio.
O ataque não pega na bola, tamanha a marcação adversária.
Um sujeito ao lado diz:
– É só esperar um contra-ataque…
Aos 32”, de falta, o adversário mete um golaço.
Um torcedor ameaça:
– É, fio,… quem-não-faz… – mas não conclui o chavão lembrando que não tiveram nenhuma chance de gol.
A torcida puxa um grito de guerra para mostrar que não se abateu.
No intervalo, as primeiras críticas:
Um sujeito cospe pedaços de hot dog e garante:
– Porra…, tá muito lento. Tem que ligar mais rápido. Pá e bola.
– E o Joleno, pelamor… não sei porque insistem nesse sujeito.
O início do segundo tempo renova esperanças.
Mas aos 4”, sai o segundo gol. Dois a zero.
Aos 18”, pênalti para o seu time. É agora a reação.
A organizada abre o bandeirão, volta a batucada esquecida.
Joleno coloca a bola na marca e dá dois chutinhos na grama.
Toma pouca distância. Juiz autoriza.
Joleno caminha e manda a bola na direção de um satélite.
Versões da vogal “U” correm pela arquibancada, como uma ola.
Três minutos depois, Uéslei mete um gol contra.
– Uéslei, vai tirar sua mãe da ordenha! – um torcedor perde a elegância.
Daí para a frente, só piora. Com 0 a 3, jogando em casa,
está instalada a Síndrome do Estádio.
Agora é torcer contra.
Não são raros os casos em que gritam “Olé” contra o próprio time.
Se sair um gol de honra, vai ter torcedor gritando:
– Enfia esse gol na pitoba, Joleno!
Anotei em meus estudos: ”A Síndrome do Estádio é o mais profundo nível da decepção humana. É quando todas as esperanças estão perdidas.”
Num ato de desespero e sarcasmo, o sujeito passa a torcer contra si mesmo.”
Pois estou convencido que o Brasil sofre de Síndrome do Estádio. Você, eu, todo mundo.
Com raros casos de cidadãos imunes, conhecidos como “otimistas”, a grande maioria da população parece ter
sido contaminada.
Frases como “eu quero ver o circo pegar fogo de uma vez” são comuns.
Quando equipes olímpicas se recusaram a morar na Vila que construímos com tanto carinho, teve gente que vibrou por dentro.
– Eita que agora vai! – gargalharam neuroticamente.
Cruzo com zumbis completamente entregues à Síndrome do Estádio.
– Torço para esse País afundar de vez! Só assim…
Pedem a falência do sistema.
Note que não são traidores.
Muitos foram caras-pintadas, outros fiscais do Sarney.
É triste vê-los assim, doentes.
Minha síndrome eu escondo.
Mas confesso que, quando o prefeito Eduardo Paes faz uma declaração, deixo escapar:
– Vai, Dudu. Fala mais, fala mais!

Mentor Neto é publicitário


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