Liderados por caminhoneiros, cerca de cem sindicatos e organizações sociais realizaram uma gigantesca manifestação nesta quarta-feira (21) em Buenos Aires contra o governo de Mauricio Macri, a quem acusam de querer que paguem o preço do ajuste econômico.

Enormes filas de manifestantes com as bandeiras de seus sindicatos marcharam pelas estradas e principais avenidas do sul de Buenos Aires, até um palco na avenida 9 de Julio, no centro. Os organizadores estimam que 400 mil pessoas participaram dos protestos, enquanto a polícia calculou 140 mil manifestantes.

Em meio à temporada de negociações salariais de 2018, a demonstração de força convocada pelo mais poderoso e influente sindicalista argentino, Hugo Moyano, tentou frear as medidas liberais de Macri.

“O governo menospreza os trabalhadores, está hipotecando o país com a dívida (pública)”, disse Moyano, líder dos caminhoneiros e de uma nova frente de oposição, que inclui a ex-presidente Cristina Kirchner.

A concentração reuniu sindicatos militantes, kirchneristas (peronistas de esquerda), a esquerda e a Confederação dos Trabalhadores da Economia Popular, que inclui os pobres e desempregados, uma entidade cujos líderes têm como referência o papa Francisco.

Organizações importantes mais ligadas com o governo não participaram do ato.

A Argentina registrou uma inflação de 24,8% em 2017, segundo dados oficiais, e apesar de o objetivo deste ano ter sido fixado em 15%, consultores privados fazem projeções maiores para 2018.

Contudo, Macri tenta controlar o custo de vida com um reajuste mais brando dos salários, uma medida rejeitada pelos sindicatos.

O governo afirma que pretende sanear a economia argentina, abrir-se ao mercado e retornar o grau de investimento do país após as políticas populistas do kirchnerismo.

“Não queremos condicionamentos”, disse após o protesto o ministro do Trabalho, Jorge Triaca, ao canal TN ao considerar que participaram dela “um conjunto de argentinos defendendo privilégios”.

A reação de Macri nesta quarta foi lançar uma crítica sem dar nomes, nem citar a marcha. “Queremos soluções sem aperto, sem extorsões, sem comportamento mafioso”, disse ele em uma cerimônia em Entre Ríos (centro).

“Não somos antidemocráticos, nem desestabilizadores. Viemos dizer que não continuem aplicando políticas que fazem as pessoas passarem fome e hipotecando o futuro”, declarou Moyano.

O sindicalista era um aliado do kirchnerismo. Mais tarde, se aliou a Macri contra a ex-presidente. Mas o romance com o presidente se rompeu quando líderes macristas acusaram-no na Justiça para que seus recursos fossem investigados.