Milhares de pessoas se mobilizaram nesta sexta-feira a pedido das cinco centrais sindicais da Argentina, separadas durante os 12 anos de governos kircheristas e reunidas depois de quatro meses do governo de Maurício Macri, depois dos ajustes e demissões no cenário de alta inflação.

“Estávamos desencontrados, mas dada a situação que vivemos, estamos juntos”, disse Antonio Calo, secretário-geral da Confederação Geral do Trabalho (CGT), ao ressaltar que os sindicatos estão unidos após “quatro meses em que cortaram postos de trabalho, foram feitos ajustes e a pobreza aumentou”.

Com uma operação pensada para mais de 100.000 pessoas, o centro de Buenos Aires foi bloqueado por uma mobilização convocada por quatro dos cinco líderes sindicais históricos que até o final de 2015 não podiam se ver pelas posições divergentes em relação ao kirchnerismo.

“É uma convocatória histórica porque hoje estamos todos juntos para defender os trabalhadores”, disse o líder histórico da CGT, Hugo Moyano, que até semanas atrás era considerado sindicalista ‘amigo’ de Macri.

A mobilização que serve para comemorar o Dia do Trabalhador em frente a um monumento no bairro de San Telmo de Buenos Aires encerra a semana em que Macri sofreu sua primeira derrota parlamentar.

O Senado aprovou na quarta-feira uma lei antidemissões que o presidente promete vetar caso seja aprovada pela Câmara dos Deputados.

As manifestações esperam freiar as demissões, o “tarifaço” de em média 300% nos serviços básicos e a inflação que já se aproxima de 40% ao ano.

Também antecipam “uma greve nacional se Macri vetar lei antidemissões”, diziam os cartazes dos sindicalistas.

“Esperamos que Macri tenha a mesma celeridade que teve com o campo”, disse ironicamente o dirigente de caminhoneiros Pablo Moyano, em referência à eliminação de impostos à exportação para a maior parte dos produtores agrícolas, anunciada por Macri quatro dias depois de sua posse, em dezembro.

“Se Macri vetar a lei vai ficar como o presidente que apoia as demissões”, disse.

As três alas da maioritária CGT e as duas vertentes da Central de Trabalhadores Argentinos (CTA) deixaram para trás as diferenças que os dividiram durante a gestão de Néstor e Cristina Kirchner (2003/2015) para enfrentar o que consideram uma investida contra os trabalhadores.

“É um dia histórico porque o movimento sindical organizado em seu conjunto está se mobilizando”, disse Hugo Yasky, secretário-geral da CTA

O ministro do Interior, Rogelio Frigerio, defendeu uma manifestação pacífica que celebre o Dia do Trabalhador. “Outra coisa seria um pouco difícil de justificar, a pouco mais de quatro meses da gestão que, como todos sabem, começou com uma herança pesadíssima”.

Médicos, professores, bancários, portuários, estatais, universitários e diversos sindicatos fizeram greves e protestos nos últimos meses.

Macri atento

Macri viajou a Tucumán (1.200 km ao norte) para anunciar um Plano Nacional de Água com o qual prevê criar 200.000 postos de trabalho, e deixou claro que estava atento às reivindicações sindicais.

“Todo mundo tem o direito a se expressar, mas estamos trabalhando em todas as questões que reivindicam”, disse o presidente.

“Sabemos que precisamos baixar a inflação, gerar mais emprego e que tinha mais investimentos e para isso estamos trabalhando todos os dias”, apontou.

Se a lei antidemissões for aprovada, Macri poderá usar o direito a veto, decisão com alto custo político em um contexto de ajuste econômico e com 100.000 demissões desde que assumiu em dezembro, segundo sindicatos.

O governo admitiu que nos primeiros três meses do ano despediu quase 11.000 funcionários.

Só em fevereiro, o emprego na construção baixou 6,5% na comparação anual, informou na quinta-feira o Instituto de Estatística da Indústria da Construção (IERIC), um setor particularmente afetado pela obra pública.

Câmaras industriais admitiram que milhares de postos de trabalho estão em risco, pelo aumento dos custos e pela queda de consumo.

O kirchnerismo, o peronismo não kirchnerista, os partidos da esquerda radical, assim como organizações sociais se juntaram ao protesto.

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