As centrais operárias argentinas aprovaram no domingo a realização de protestos contra o veto do presidente liberal de direita, Mauricio Macri, à lei antidemissões, durante um seminário com a Igreja Católica impulsionado pelo Papa Francisco, anunciou o líder sindical Hugo Yasky.

“Vamos para uma greve, ou uma mobilização com paralisação das atividades na primeira semana de junho”, disse ao canal C5N Yasky, líder da organização sindical CTA.

O encontro sindical foi realizado em Mar del Plata, no sul do país, onde o titular da Pastoral Social, o bispo Jorge Lozano, leu uma mensagem do Papa na qual ele exorta ao “crescimento de uma comunidade comprometida que deixe de lado a indiferença e adote compromissos concretos”.

Opositores peronistas de centro-esquerda se uniram a peronistas de centro-direita nesta semana no Congresso para aprovar uma lei que põe limites às demissões em empresas estatais e privadas, que já chegam a 155.000 em 2016.

Quase a metade dos argentinos teme perder seu trabalho, segundo a consultoria privada Analogías. O Observatório Social da poderosa Universidade Católica revelou que a pobreza somou 1,4 milhão de pessoas e subiu para 34,5% durante os primeiros três meses de governo de Macri.

O presidente vetou a lei na sexta-feira com o argumento de que a norma não contribui para que as empresas gerem investimentos e empregos, em reação à sua primeira derrota legislativa desde que assumiu o governo, há quase seis meses.

“Muitos dos que hoje impulsionam [a lei] o fazem movidos por interesses políticos, porque querem que o governo fracasse”, escreveu Macri em uma carta publicada no domingo pelo jornal La Capital de Rosario.

A crítica de Macri mirou o kirchnerismo que governou por 12 anos, até dezembro passado, com políticas de subsídios sociais, fomento à indústria argentina com barreiras às importações e reajustes de salários acima da altíssima inflação, de mais de 30% ao ano.

Agora a inflação volta a bater os recordes da última década, com quase 20% entre janeiro e abril, segundo consultoras econômicas.

O Papa Francisco expressou sua “preocupação pelos conflitos sociais, econômicos e políticos na Argentina, na Venezuela, no Brasil e na Bolívia”, ao receber membros do Conselho Episcopal Latino-americano (Celam) em Roma.

“Tem que haver uma reação ao veto de Macri. É um erro histórico. Pode ser uma greve ou mobilização no Congresso ou na Plaza de Mayo”, disse à imprensa o líder do sindicato dos Caminhoneiros, Pablo Moyano, filho do líder da central operária peronista CGT, Hugo Moyano.

Em 29 de abril, as centrais se uniram pela primeira vez em duas décadas para organizar um comício com mais de 300.000 trabalhadores a favor da lei antidemissões.

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