Começou neste sábado (14), com uma cerimônia religiosa, a despedida solene do ex-presidente do Peru Alberto Fujimori, antes de seu corpo ser trasladado ao palácio do governo, onde receberá honras de Estado, antes de ser enterrado em Lima.

A cerimônia acontece no Grande Teatro Nacional, com capacidade para 1.500 pessoas, localizado ao lado do Ministério da Cultura, onde o corpo está sendo velado desde quinta-feira.

Somente familiares e amigos próximos tiveram acesso ao prédio, onde foi montado um altar com rosas brancas e uma imagem do ex-presidente em grande escala.

De origem japonesa, mas popularmente conhecido como “O Chinês”, o ex-mandatário (1990-2000) morreu na quarta-feira aos 86 anos em sua casa em Lima, acompanhado por seus filhos Keiko e Kenji.

Fujimori morreu após quatro meses de tratamento contra um câncer na boca.

A cerimônia religiosa está sendo acompanhada por centenas de apoiadores através de uma tela gigante instalada do lado de fora do teatro.

Desde cedo, centenas de simpatizantes, com bonecos ou fotos de Fujimori com a faixa presidencial, se aglomeraram em frente ao teatro para prestar suas homenagens.

Emocionados, entoaram o “ritmo do chino”, canção da última campanha presidencial de Fujimori, ou o refrão “chino valiente aquí está tu gente”.

Este “homem que pacificou o país teve coragem para lutar contra o terrorismo”, afirmou Édgar Grados, um comerciante de 43 anos.

“De amanhã em diante, vamos continuar com seu legado, porque o fujimorismo nunca morre; continuará na história com todas suas ideias e trabalho”, acrescentou o homem, que afirmou ter viajado mais de 100 quilômetros para se despedir do ex-presidente.

Fujimori havia sido indultado em dezembro por razões humanitárias enquanto cumpria uma pena de 25 anos por homicídio, sequestro e outros graves abusos cometidos por militares em sua luta contra a guerrilha maoísta do Sendero Luminoso.

Com um estilo autoritário e populista, ele enfrentou um período turbulento marcado pela hiperinflação e violência indiscriminada de Sendero Luminoso, a qual conseguiu derrotar com sangue e fogo.

– “Sem pedir perdão” –

Fujimori, que chegou ao poder como um ‘outsider’ ao derrotar o escritor e posteriormente ganhador do Prêmio Nobel Mario Vargas Llosa, em 1990, redefiniu o cenário político do século XXI e até o fim de seus dias polarizou o país.

Apesar da deterioração de sua saúde, Keiko deu a entender em julho que seu pai seria candidato às eleições gerais de 2026, após ter sido perdoado por razões humanitárias e libertado da prisão.

Durante os 16 anos em que esteve preso, Fujimori sempre defendeu sua inocência. Mas a Justiça o considerou responsável pelos massacres de Barrios Altos e Cantuta, nos quais 25 pessoas foram executadas a sangue frio por um esquadrão militar em 1991 e 1992.

O conflito interno ou “guerra contra o terrorismo” – como foi oficialmente denominado – deixou mais de 69 mil mortos e 21 mil desaparecidos no período entre 1980 e 2000, a grande maioria civis, segundo a Comissão da Verdade e Reconciliação (CVR).

“Este senhor se foi sem pedir desculpas aos familiares ou pagar uma indenização. Para mim é um ditador condenado por vários crimes”, disse à AFP Gladys Rubina, irmã de uma das 15 vítimas do massacre de Barrios Altos.

O presidente da CVR, órgão que investigou os anos de violência política no Peru (1980-2000), lamentou que ele tenha falecido “sem pedir perdão” às vítimas civis do conflito.

“Ele foi uma pessoa que trabalhou para o Peru, fez coisas boas, mas em outras não correspondeu ao cargo que ocupava e usurpou”, disse à AFP Salomón Lerner Febres, ex-diretor da CVR.

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