[posts-relacionados]O historiador Simon Sebag Montefiore, de 52 anos, é professor na Universidade de Cambridge como autor de best-sellers como “Os Románov” (2016) e a monumental biografia de Josef Stalin, iniciada em 20013, e a história de Jerusalém, de 2011. Nesta entrevista à ISTOÉ, ele mostra como e por que empreendeu a tarefa de pesquisar a história russa e de seus personagens, e qual a importância da Rússia para a história recente da civilização. Ele falará sobre “O Poder na Alcova” em 28 de julho, durante a 16ª Flip (Feira Literária Internacional de Paraty).

Por que você escolheu o tema da história da Rússia para escrever livros?

Porque adoro o país, sua literatura, história, o povo e suas cidades. Rússia é um tema fundamental, assim como o Oriente Médio foi tema do meu livro “Jerusalém”. Tal como o Oriente Médio, a Rússia é sempre essencial e relevante. Foi um trabalho de amor.

Por que Catarina e Potemkin?

Admirava os dois e eles foram difamados pela história – ela como ninfomaníaca e ele como um gigolô bufão. Mas poucas pessoas pesquisaram os arquivos sobre eles. Eu me dei conta que eles eram estadistas notáveis, verdadeiros titãs, apesar de seus defeitos.

Em que medida o governo de Catarina foi  importante para o mundo e a geopolítica atuais?

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Catarina, a Grande, anexou a Crimeia, e grande parte da Ucrânia, bombardeou a Síria, invadiu o Cáucaso. Em outras palavras, tem ecos fortes na Rússia de Vladímir Putin de hoje em dia.

Catarina foi manipulada pelos homens ou vice-versa?

As duas coisas, obviamente. Quando era jovem e frágil, Catarina precisou dos homens que lhe deram músculos para tomar o poder. Uma vez no poder, ela os manipulou. Esse hábito se manteve até que ela encontrou Potemkin. A parceria se tornou igualitária, uma combinação pouco usual de política e sexo. Eles eram tanto governantes como marido e mulher. Também eram brilhantes e sábios.

Os hábitos administrativos e sexuais de Catarina são inspiradoras para o feminismo de hoje? Seria ela uma precursora do feminismo?

Sim. Catarina está inspirando as mulheres modernas. É por isso que Angelina Jolie comprou os direitos de meu livro para produziu um filme sobre ela. Catarina é um modelo do feminismo.

Apesar dos hábitos aparentemente promíscuos, Catarina tinha convicções morais fortes. Como essa aparente contradição resultou em um governo e uma vida pessoal organizados – se é que foram organizados?

Não a chame de promíscua, por favor. Ela foi menos promíscua em seus 68 anos que a maior parte dos estudantes em um semestre! Ela teve casos com 12 homens, ao que saibamos, em sete décadas – provavelmente um pouco mais que 12, mas isso não caracteriza uma ninfomaníaca. Eu tenho que defender a reputação dela! Ela organizou o governo muito bem e tentou racionalizar sua vida como mulher com amantes, de forma que tudo se encaminhou para mais transparência e menos fofoca.

A Rússia do século 18 soa um tanto bárbara para o leitor contemporâneo. O que permaneceu na Rússia atual dessa barbárie?

O que permaneceu na Rússia atual da barbárie russa do século 18?

Catarina e Potemkin foram os governantes mais humanos da Rússia, mesmo se comparados com os lideres russos atuais. Eles eram filhos do Iluminismo. Mas acreditavam na autocracia, como os governantes russos de hoje.

Qual foi a realização mais importante do governo de Catarina II?


Ela deveria se orgulhar não só de ter expandido o território russo, como  promovido a Rússia a uma potência na Europa. Para isso, usou tanto a força como o “soft power” . Fez publicar  cartas para promover a civilização na Rússia – e assim ela formou sua coleção de arte.

A biografia de Catarina e Potemkin serviu como  base para o livro “Os Románov”, ou você pensou nos dois projetos de forma diferente?

Os dois livros estão relacionados, é claro. Escrevi “Catarina e Potemkin” primeiro. Foi um trabalho de amor. Eu admirava os dois e eles tinham sido moldados  pela historiografia – ela como uma ninfomaníaca como um cafetão bufão que construiu aldeias falsas. Mas poucas pessoas realmente trabalham nos arquivos. Quando eu percebi que s eram estadistas notáveis, titãs. é claro que também me detive em suas falhas e defeitos, que eram muitos também. Mas acima de tudo eles eram muito talentosos. Para compor “Os Románov”, me interessou mais na dinastia então planejei escrever isso

Você é um pesquisador e um narrador preciso e detalhista, mas parece evitar o discurso interpretativo típico dos historiadores. Por que você adotou esse método de detalhar sem interpretar?

Na verdade, acho que interpreto e analiso, mas a análise e a interpretação não são tediosamente contadas em linguagem acadêmica, o que eu sempre achei chato, embora eu seja um historiador da Universidade de Cambridge. Não há necessidade de a história ser entediante. Eu faço a pesquisa e a análise. Eu me esmero em trabalhar e escrever de forma agradável para tornar a pesquisa acessível, para torná-la legível a qualquer um, mesmo leitores que não gostam de história. isso é muito mais difícil de fazer.  E deve ser emocionante. Poder e política são empolgantes, não é mesmo? Veja Trump, Putin e Kim hoje, por exemplo.

Quais são seus próximos projetos?

Estou trabalhando em muitos projetos de filmes. Meus romances acabam de ser selecionados assim como todos os meus livros de história, e agora estou escrevendo roteiros para novos projetos originais. Tenho um novo livro este ano chamado “Escrito na História: letras que mudaram o mundo”.


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