A nossa Bandeira e nossas cores são realmente especiais.

Esteja onde você estiver, se no meio da multidão tem alguém de camisa amarela, a gente sabe imediatamente que é um brasileiro.

Pode até não ser, não importa. Nosso verde e amarelo é mais importante do que a realidade.

A Bandeira, por sua vez, tem essa sobreposição de formas geométricas simples: num retângulo está inserido um losango e nele, um caprichoso círculo.

Qualquer um identifica. Em um segundo.

Essa imagética brasileira de formas e cores é rapidamente adotada pelos brasileiros desde pequenos.

O apelo de nossas cores vivas é quase infantil, afinal. Longe das cores pálidas e tristes de uma Alemanha, Inglaterra ou mesmo dos Estados Unidos.

Então estamos lá, nós brasileiros, felizes da vida com nossos símbolos.

Cores e formas que simulam nossa própria alegria.

Tudo ia bem.

Até quando não foi mais.

Porque uma parcela da população simplesmente sequestrou esses nossos valores para seus delírios, teorias de conspiração, fake news e, por que não, crimes.

Claro que estou falando dos terroristas de 8 de Janeiro.

Mas falo também dos idiotas que ainda continuam a espalhar fake news usando como estética justamente nossa Bandeira e nossas cores.

Essa semana, dei de cara com um desses.

Um post, em uma rede social, onde um indivíduo informava que o presidente Lula havia acabado de enviar um projeto para o Congresso Nacional acabando com a propriedade privada.

Segundo o canalha, se aprovado, o governo iria confiscar toda a propriedade privada do País.

O sujeito está com a câmera bem próxima de sua boca.

Perdigotos voam em minha direção e graças aos deuses da tecnologia são bloqueados pela lente de sua câmera.

Enquanto insiste em sua narrativa falsa, ao fundo, uma Bandeira do Brasil tremula impávida.

Então acontece.

Por um segundo, odeio aquela bandeira.

Foi apenas um segundo. Um impulso inconsciente.

Mas é o resultado pavloviano, semiótico, publicitário da associação de ideias.

Natural e só vai piorar.

Ver a Bandeira ou nossas cores pelas ruas, não tem mais nenhum significado patriótico. Somos um País temporariamente sem símbolos.

Pela primeira vez em meu meio século de existência, não me identifico com os ícones da minha Nação.

O sujeito continua falando, gravando mais e mais mentiras em nossa Bandeira mental.
Parafraseando o antológico Paulo Francis, “o sujeito tem que ter mingau no cérebro” para acreditar no que diz esse rapaz.

No entanto, já tem milhares de curtidas e comentários, o tal post.

Passou da hora de resgatar nossa bandeira e nossas cores

Leio uma meia dúzia deles.

São de irrestrito apoio ao conteúdo enganoso.

Gente e mais gente, com a mesma Bandeira e as mesmas cores, indignados porque Lula vai confiscar toda a propriedade privada do País.

Peguei esse exemplo ao acaso.

A mentira contida no post não importa. Poderia ser qualquer outra, das milhares que essa gente ignorante espalhou ao longo dos últimos anos.

O que importa é a estética.

Os símbolos e as cores.

Imagine uma geração inteira de crianças brasileiras que assiste diariamente, nas redes sociais e nas ruas, aos nossos símbolos mais nobres, mais nossos, serem associados a uma ética onde a mentira é a regra.

Passou da hora de uma contrainvestida que resgate nossos símbolos desse cativeiro ideológico.