Bibi Ferreira

A atriz, cantora e produtora carioca Bibi Ferreira, desde que morreu aos 96 anos enquanto dormia em seu apartamento no Rio de Janeiro, no dia 13 de fevereiro, tem sido etiquetada como “a diva dos musicais brasileiros”. É justo, pois o Brasil experimenta agora o renascimento do teatro musicado, onde Bibi brilhou e pelo qual lutou a vida inteira.

Mas Abigail Izquierdo Ferreira foi mais do que uma prima-dona. Em 77 anos de carreira, ficou conhecida como “a primeira-dama do teatro brasileiro”. Bibi o simbolizou em todos os aspectos, do valor da linhagem artística à profissionalização da atividade. Representou o vínculo entre dois tempos: os palcos profissionalizados do século XXI e os tablados precários do início do século XX, os musicais de hoje e as burletas (comédias musicadas) e revistas de ontem.

Filha do ator Procópio Ferreira e da cantora espanhola Aída Izquierdo, aprendeu segredos das artes cênicas quando criança. A madrinha Abigail Maia foi a diva das burletas da Praça Tiradentes, o centro da zona teatral da capital da Velha República. No colo de Abigail, ela “estreou” com 20 dias, fazendo ponta como bebê na burleta “Manhãs de sol”, de Oduvaldo Vianna, seu padrinho. Pais e padrinhos lhe ensinaram a não sonhar. Diziam que o ator só triunfaria se fosse protagonista tanto nos palcos como nos bastidores. Desde cedo, Bibi se impôs às companhias que chefiou por trabalhar mais que todos os outros.

“Eu não tenho sonhos. Tudo o que eu fiz na minha vida foi por necessidade. Desde muito jovem eu aprendi a não sonhar. Aprendi a realizar” Bibi Ferreira, atriz

Foram centenas de peças, shows e filmes; e Bibi lembrava de cada um deles. Aos 15 anos, cantou o samba “Na Bahia” no filme “Cidade Mulher”, de Umberto Mauro, sob orientação do autor, Noel Rosa. Foi a ingênua de comédias nos anos 1940 e 1950, quando abriu espaço para as iniciantes Cacilda Becker e Maria Della Costa. Viveu a mulher traída no musical “Gota d’Água” (1975), com músicas de Chico Buarque, adaptação de Paulo Pontes da tragédia grega “Medeia”, de Eurípedes. Fez sucesso personificando cantoras, como em “Piaf” (1983) e “Viva Amália” (2001).

Em setembro de 2018, ao fim da turnê do musical ”Por toda a minha vida”, Bibi encerrou por motivo de saúde as atividades iniciadas 1941. Não fez uma despedida solene. Retirou-se à francesa, como indicam as comédias em que atuou. Sua união com o teatro foi indissolúvel. Agora sua história se integra ao patrimônio das artes.