Silvio Berlusconi, que foi primeiro-ministro da Itália por três mandatos, empresário dos meios de comunicação e ex-proprietário do Milan, envolvido em diversos escândalos, faleceu nesta segunda-feira (12) aos 86 anos, vítima de leucemia.

Chamado de “o imortal” por sua longevidade na política, o senador e empresário havia sido internado na sexta-feira (9) em um hospital de Milão, sua cidade natal.

De acordo com a imprensa italiana, Berlusconi deixou de responder a seu tratamento contra o câncer.

Poucos minutos depois do anúncio da morte, dezenas de pessoas se reuniram diante do hospital San Raffaele, e as reações do mundo político e esportivo começaram a ser divulgadas.

Em um vídeo, a primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, elogiou a “coragem e determinação” de seu aliado, que considerou “um dos homens mais influentes da história da Itália”.

O AC Milan, que teve seu período mais glorioso quando Berlusconi foi o proprietário do clube (1986-2017), declarou-se “profundamente triste” com a morte de seu “inesquecível” ex-presidente.

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, homenageou Berlusconi, que chamou de “pessoa querida” e um “verdadeiro amigo”.

O funeral de Estado acontecerá na quarta-feira (14) na catedral de Milão, anunciou a diocese local.

Um dos homens mais ricos da Itália, com uma fortuna calculada em 6,4 bilhões de euros pela revista Forbes, Berlusconi foi um grande comunicador e um anticomunista convicto, amado e odiado com a mesma intensidade.

O empresário ousado e inovador, que inventou um peculiar e muito imitado formato de televisão comercial na Itália na década de 1980, enfrentou vários problemas de saúde nos últimos anos de vida e foi internado diversas vezes.

O político, que venceu três eleições e comandou um dos governos mais longevos da Itália no Pós-Guerra, sofria de leucemia crônica, revelaram os médicos no dia 6 de abril, quando Berlusconi foi hospitalizado por problemas respiratórios.

Sua aura permaneceu intacta por décadas, graças a sua personalidade expansiva e a sua vida conturbada. Essa combinação levou-o diversas vezes ao banco dos réus por acusações de corrupção, compra de testemunhas e fraude fiscal.

– Orgias “bunga bunga” –

Conhecido pelas orgias denominadas “bunga bunga”, pelas piadas vulgares e por seus comentários inapropriados, inclusive durante reuniões internacionais – como quando fez comentários sobre o físico da então chanceler alemã, Angela Merkel -, Berlusconi foi um personagem no exterior e o símbolo de uma Itália em rápido crescimento.

Primeiro-ministro durante nove anos, entre 1994 e 2011, consolidou sua grande fortuna nas décadas de 1980 e 1990.

Com o passar dos anos, “Il Caimano” (O Jacaré, um de seus vários apelidos) passou por várias cirurgias no rosto em busca de rejuvenescimento, usava maquiagem para disfarçar as rugas da idade e, com frequência, era acompanhado por uma namorada muito mais jovem.

Paralelamente, o partido que fundou, Forza Italia, registrou um lento declínio, passando de 29,43% dos votos nas eleições legislativas de 2001 para apenas 8% em 2022.

No âmbito judicial, o magnata enfrentou durante muitos anos os processos iniciados por suas polêmicas festas eróticas durante os mandatos como primeiro-ministro, que contaram com a participação de uma menor de idade de origem marroquina, conhecida como “Ruby rouba corações”. Ele costumava apresentá-la como sobrinha do presidente egípcio, Hosni Mubarak.

Por este escândalo, também conhecido como “Rubygate”, que despertou grande interesse fora e dentro da Itália, ele foi submetido a três julgamentos.

Apesar de ter sido absolvido da acusação de prostituição de menor, Berlusconi foi processado por subornar as testemunhas do caso, a maioria modelos e prostitutas, julgamentos que abalaram sua imagem.

– Poder, dinheiro e sexo –

Nascido em 29 de setembro de 1936, filho de um bancário, animador de cruzeiros na juventude e formado em Direito, a origem de sua enorme fortuna provocou todo tipo de especulação e continua incerta.

Alguns jornalistas chegaram a denunciar a possibilidade de ter começado com empréstimos feitos pela máfia siciliana.

Com seus canais privados de televisão, com programas repletos de belas mulheres quase nuas, ele conquistou o grande público.

Também fez fortuna no setor imobiliário e financeiro antes de iniciar a carreira política, conquistando ao mesmo tempo telespectadores e votos, embora não tenha conseguido realizar seu maior sonho: ser presidente da República.

Com a holding Fininvest, proprietária de três canais de televisão, vários jornais e da editora Mondadori, Berlusconi acumulou ainda mais poder, e seu império se expandiu para o cenário internacional.

Ele foi o precursor de um estilo de político milionário que se espalhou pelo mundo, que ignora e desrespeita os princípios éticos e morais.

Berlusconi nunca abriu mão de seus negócios e empresas, o que provocou um debate sobre conflito de interesses. Em novembro de 2011, porém, teve de renunciar ao cargo de primeiro-ministro diante das críticas em uma Itália sob grave crise financeira.

Condecorado como “Cavaleiro do Trabalho” (“Cavaliere del Lavoro”) aos 41 anos, perdeu o título depois da condenação definitiva em 2013 a quatro anos de prisão por fraude fiscal na empresa Mediaset. Foi, então, expulso do Senado, depois de 20 anos de presença contínua no Parlamento. Berlusconi conseguiu retornar ao posto de senador nas legislativas de 2022.

Pai de cinco filhos de dois casamentos e com vários netos, Silvio Berlusconi não deixa herdeiros políticos, e sim muitos herdeiros econômicos, após distribuir seu imenso patrimônio.

ide-kv-avl-mar/fp/tt