Alê Youssef publicou um vídeo de despedida do cargo de secretário municipal da Cultura de São Paulo na manhã desta quinta-feira, 26. “Após um período de luto e de estruturação de programas essenciais, entendemos que era hora de sair”, disse o ex-secretário, que volta para o Baixo Augusta, para o carnaval de rua, mas, como disse, continua no “bloco da cultura”.

Youssef, escolhido pelo então prefeito Bruno Covas (PSDB), morto em maio, pediu demissão na noite desta quarta-feira, 25, alegando “óbvias incompatibilidades” com a atual gestão. A jornalista Josélia Aguiar, seguindo a decisão de Youssef, pediu demissão da direção da Biblioteca Mário de Andrade. Maria Emília Nascimento, diretora do Departamento de Patrimônio Histórico, também anunciou sua saída nas redes sociais. Outros membros da equipe devem anunciar sua saída ainda nesta quinta-feira.

“Com a partida de Bruno Covas, com quem estabelecemos laços de confiança que projetavam a liberdade e o ambiente político necessários para defendermos, ampararmos e valorizarmos a cultura brasileira nesse momento tão crucial para o setor, e diante de explícitas diferenças e óbvias incompatibilidades que surgiram e se refletem não apenas ideologicamente na dificuldade de compreensão do caráter libertário, transformador e independente da cultura, como também na dificuldade prática, para o descongelamento de verbas contingenciadas de 2021 e um aumento substancial do orçamento para a Secretaria, para 2022, em face aos enormes desafios para o setor pós-pandemia, após um período de luto e de estruturação de programas essenciais, entendemos que era hora de sair”, disse Alê Youssef no vídeo.

Ele comentou ainda que tem certeza de que conseguiu aproveitar “a vitalidade de São Paulo para furar bolhas, construir pontes, abrir o diálogo, buscar a inclusão, celebrar a diversidade, ocupar de forma ampla e democrática a cidade e criar o contraponto necessário em defesa da cultura no Brasil a partir da maior cidade do País.” Para o ex-secretário, “arte é ocupar”. “E uma cidade ocupada pela arte e pelas pessoas é uma cidade mais humana, mais bonita, mais colorida, mais segura e muito melhor para se viver.”

Youssef contou que deixou pronto o planejamento estratégico até 2024 e o projeto para as comemorações do centenário da Semana de Arte Moderna, que ele chamou de “22+100”. Ele agradeceu à sua equipe, aos servidores e aos artistas, e disse: “pessoas da cultura defenderam a cultura em nossa cidade no momento em que nosso setor estava sendo violentamente atacado no Brasil”.

Quanto aos planos pós-secretaria, ele disse que volta para o Baixo Augusta “para ajudar na retomada cultural e celebrar o 22+100 no território mais antropofágico do cidade e continuar fazendo um dos maiores carnavais do Brasil”. E completou: “Sigo no bloco da cultura, no movimento nacional, plural, em defesa do setor que acredita que a cultura é a saída mais justa, mais próspera, sustentável e democrática para o nosso País.”

Alê Youssef, que promoveu o Festival São Sem Censura (e, antes, o Festival Verão Sem Censura, que coincidiu com a polêmica envolvendo o vídeo de Roberto Alvim, então secretário especial da Cultura, que fazia apologia ao nazismo) terminou sua fala criticando o governo federal e dizendo: “permaneço firme na trincheira da civilização e do pensamento, contra os enormes retrocessos que o País viveu nos últimos anos, contra esse desgoverno federal”. Comentou, ainda, que segue na luta por tornar São Paulo uma cidade “muito mais modernista do que bandeirante”.

Alê Youssef teve duas passagens Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo. Ele foi nomeado em janeiro de 2019 e assumiu o cargo que era de André Sturm. Em março de 2020, Youssef deixou a pasta ao recebeu convite do partido Cidadania, em possível candidatura de vice na chapa do prefeito, o que não aconteceu. E voltou ao cargo em dezembro.