Seria ridículo se não fosse trágico. Os sigilos de 100 anos estabelecidos por Bolsonaro para qualquer movimento nos gabinetes do governo são decisões autoritárias de um presidente que atua para diminuir a transparência do poder público e escamotear seus malfeitos. Nos últimos quatro anos, ele fez o que pode para tornar sua gestão mais obscura e menos democrática. Com o argumento de preservação de dados pessoais, o governo comete excessos e impõe sigilo para qualquer ato secundário, como as visitas recebidas pela primeira-dama, Michelle Bolsonaro, no Palácio do Alvorada. Segundo levantamento do jornal O Estado de S.Paulo, foi imposto o segredo centenário para pelo menos 65 casos que deveriam ser públicos, incluindo o pedido de apuração disciplinar ao Exército das irregularidades cometidas pelo ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello.

No fundo, essa imposição de sigilos não passa de mera provocação. Bolsonaro aproveita um direito presidencial para mostrar sua vontade ditatorial. Ao longo de seu governo, sempre que viu algum risco de ser desmascarado ele deu um jeito de esconder alguma informação. Em abril, tratou, por exemplo, de tornar secretos seus encontros com os pastores lobistas do Ministério da Educação investigados pela Polícia Federal. No ano passado, impôs a mesma censura a todas as informações dos crachás de acesso ao Palácio do Planalto dos filhos Carlos e Eduardo.

Recentemente, questionado sobre o fato das visitas ao Palácio do Alvorada não serem públicas declarou que “não deve satisfação a ninguém”.

A filosofia de Bolsonaro é simples e abjeta: esconder o que não convém ao governo mostrar, tripudiando com a imprensa e com os cidadãos para tornar misterioso o que deveria ser público. E ele faz isso por mero capricho de ditador, só para mostrar que pode. Quando comparado com outros presidentes, o atual ultrapassa seus antecessores, como Dilma Rousseff e Michel Temer, no esforço para esconder os fatos. A realidade é que Bolsonaro odeia a transparência, se protege na escuridão e rejeita os canais de participação democrática no governo, criados nas últimas décadas. Seus decretos de sigilo são medidas suspeitas que só revelam sua falta de vergonha na cara.