25/03/2021 - 9:30
A expressão “ser ou não ser”, questão existencial para o príncipe Hamlet em uma das obras mais famosas de William Shakespeare, pode ser aplicada aos quadros que eternizam a aparência do autor. “É ou não é ele?”. A busca por uma resposta fiel à realidade pode ter chegado ao fim: o busto localizado na igreja da Santíssima Trindade, na cidade de Sratford-upon-Avon traz, comprovadamente, o verdadeiro rosto do bardo.
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Segundo a acadêmica Lena Cowen Orlin, pesquisadora americana da Georgetown University e uma das maiores autoridades em Shakespeare em todo o mundo, o busto que repousa na igreja onde está seu túmulo é sua imagem real. Acreditava-se que a escultura havia sido instalada no local muitos anos após a morte de Shakespeare, em 1616. A nova descoberta, porém, revela que ela foi feita a partir de uma modelagem do britânico ainda em vida — e por um escultor que o conheceu bem.
Lena argumenta que o escultor Nicholas Johnson, fabricante de túmulos, era próximo de Shakespeare. O fato de o autor não ter deixado instruções a respeito de um memorial em seu testamento, o que seria comum para um dramaturgo tão popular, indicaria que aquela já era a imagem escolhida pela qual ele gostaria de ser lembrado após a sua morte.
“O busto foi inaugurado em 1623, ano próximo ao da sua morte. O artista conhecia o escritor” Martin Cezar Feijó, professor da FAAP
Antes dessa tese, atribuía-se esse busto a Gerard Johnson, artista jacobino e irmão de Nicholas Johnson. A obra é levemente diferente da clássica tela a óleo do século 17 com a famosa representação do escritor — quadro feito por um autor desconhecido.
O estudo também mostrou que a oficina do artesão ficava a poucos metros do Globe Theatre, palco onde Shakespeare apresentou suas criações mais conhecidas. O mesmo Nicholas Johnson trabalhou na construção de um monumento em homenagem a John Combe, amigo de Shakespeare, mais um indício da relação. Para Martin Cezar Feijó, professor da FAAP, a data da morte de Shakespeare é fundamental para esclarecer a importância do busto. “Ele foi inaugurado em 1623, ano próximo ao da sua morte. O artista certamente conhecia o escritor”, afirma Feijó.
William Shakespeare nasceu em 23 de abril de 1564 e morreu em 23 de abril de 1616. Segundo o crítico Harold Bloom, ele foi “o inventor do humano”. Esse audaz leitor da alma humana acharia irônica a discussão sobre sua própria identidade.
