Tão resistentes como o látex de boa camisinha são a teimosia e a ignorância de considerável parcela da juventude brasileira que faz sexo sem preservativo. Sexo seguro aponta para elevada autoestima e amor à vida. Sexo de risco vai em direção oposta: traduz-se na mais total irresponsabilidade, tangenciando a insanidade mental e a psicopatia na medida em que há profundo desprezo pelas normas de saúde pública e o bem estar social. O que mais se vê são teóricos, ONGs e gente da esquerda-tagarelante responsabilizando o governo pela carência de campanhas educativas. Pode até ser que tal carência exista, mas é importante frisar que, nos dia de hoje, quando se tem considerável parte da juventude hipnotizada diante da internet em celulares, é bem fácil para essa mesma juventude se informar sobre a profilaxia de doenças sexualmente transmissíveis. Dá para imaginar que aqueles que tudo cobram do Estado ainda cheguem, algum dia, ao ponto de exigir a presença de um representante estatal olhando cada relação (risos), e avisando: “põe camisinha!” Seria voyeurismo demais (risos), ridículo! Pois bem, o resultado de toda a irresponsabilidade é o seguinte: HIV, sífilis (doença do século XV, tudo bem?), herpes, HPV e clamídia passeiam de corpo a corpo e ameaçam minar gerações.

Estudos da ONU mostram que a contaminação por HIV caiu 28% em todo o mundo, mas aqui aumentou em cerca de 12%, alçando o Brasil à condição de país com o maior índice de contaminação da América Latina. Vamos, agora, a um elucidador detalhe levantado pelo IBGE entre adolescentes de classe média e de classe média alta: em 2012, 75% dos entrevistados declararam usar camisinha; no ano passado, esse indicador despencou para 66%. Quanto à sífilis, nos últimos cinco anos sua proliferação subiu 260% (você leu certo: 260%). Se atingir o sistema nervoso central, essa enfermidade, causada pela bactéria Treponema pallidum, leva à demência. Os vírus do herpes, antes distinguíveis entre labial e genital, enrolaram-se tanto, uns com os outros, que agora são um só. Motivo: muito sexo oral sem proteção (hetero ou homossexual), com uma ou ambas as partes infectadas, seja na boca, seja nos órgãos sexuais.

Há duas ligações diretas ao desdém pelo preservativo. A primeira é que houve uma grande evolução no tratamento da Aids com o desenvolvimento de antirretrovirais que asseguram uma sobrevida relativamente confortável. O coquetel de medicações, antes composto por onze comprimidos com agressivos efeitos colaterais, tornou-se uma única cápsula diária. Mais: a pílula Truvada promete eliminar em até 93% a possibilidade de infecção pelo HIV, se a sua ingestão anteceder a relação de risco. Passou-se, então, a confundir eficácia do coquetel com cura, embora ainda não haja cura para Aids – e assim relaxou-se na camisinha.

O segundo ponto em questão é a bebida alcoólica, e seu consumo sobe demais no carnaval. Alias, carnaval, balada e pancadão funk são tão bons que as pessoas já bebem antes de chegarem a esses eventos – e chegam neles para beber. Tudo muito criativo. Bebe-se muito no carnaval e nas baladas, e o efeito do álcool no cérebro (sobretudo nos neurotransmissores glutamato e ácido gama aminobutírico) leva à “amnésia da camisinha”. Beija-se muita gente desconhecida. É um sai e volta constante, e nessas saídas faz-se sexo oral desprotegido. Não é sem motivo, portanto, que tudo isso levou à constatação de que 32% dos casos de câncer de boca estão associados ao HPV (e a bebida ajuda porque 0,6% de álcool já diminui a resistência das células do sistema imunológico da cavidade bucal). Eis um breve quadro de como o hedonismo desenfreado e o impulso incontrolável (prazer, que é bom, não há) estão construindo o sexo suicida no Brasil.