Quando o segundo confinamento da Inglaterra for suspenso na quarta-feira (2), Tunbridge Wells, uma cidade muito conservadora conhecida por sua aversão a imposições, será mais uma vez mergulhada em um confinamento regional ainda mais rígido.

Esta cidade de 118.000 habitantes do sudeste da Inglaterra foi relativamente pouco atingida pelo coronavírus em comparação com seus vizinhos próximos, mas terá de se submeter às mesmas regras que estes, os quais apresentam níveis mais elevados de contágio.

Pubs e restaurantes poderão funcionar apenas para entrega de pedidos. Academias, museus e cinemas permanecerão fechados.

“É como um quebra-cabeça ridículo”, reclama Pat Parrock, uma aposentada que está furiosa com a estratégia do governo, enquanto toma uma bebida quente com um amigo, sentada do lado de fora de um estabelecimento no elegante centro da cidade.

Nesta localidade de Kent, a cerca de 50 quilômetros de Londres, a taxa de contágio é muito menor do que a média nacional. Ainda assim, o governo decretou um nível de alerta “muito alto”, já que os índices no leste do condado, a cerca de 60 km de distância, estão entre as piores da Inglaterra.

Apesar das recomendações das autoridades, Pat Parrock diz que continuará a frequentar a academia na vizinha East Sussex, que tem uma taxa de contágio similar, mas estará submetida a restrições menos severas.

“Não vão chegar ao ponto de colocar controles?!”, exclama indignada.

Sua amiga Caroline Stedman, 73, tenta acalmar a situação. “Cumprimos as normas”, ela diz.

Esse tipo de disparidade existe em todo país, já que o primeiro-ministro Boris Johnson optou por bloqueios regionais, em vez de intervenções mais localizadas para combater a propagação do vírus.

Até o momento, são mais de 57.000 mortos no Reino Unido, o pior saldo da Europa.

A abordagem revolta os moradores desta cidade.

– “Não se pode fazer nada” –

O espírito de solidariedade do primeiro confinamento no Reino Unido começa a desaparecer nesta primavera (outono no Brasil).

Os governos locais de Escócia, Gales e Irlanda do Norte, competentes em matéria de saúde, desenvolveram sua própria estratégia.

E a estratégia regional na Inglaterra, que até agora atingiu o norte em particular, desperta protestos daqueles afetados pelas restrições mais duras.

“Quando havia um bloqueio nacional, todo mundo estava no mesmo saco”, diz Brandon Moore.

Para este bibliotecário de 23 anos, submeter a região a restrições mais rígidas é “injusto”, embora, até certo ponto, compreensível.

O governo prometeu rever as restrições em meados de dezembro e, depois, a cada semana. Na última quinta-feira, o premiê Boris Johnson garantiu que “cada região tem os meios” para conseguir isso.

Como Tunbridge Wells depende da taxa de infecção de Kent, a promessa do governo não parece fazer muito sentido para Brandon Moore.

“Não temos muitos (casos). Pode-se dizer que não podemos fazer nada”, completa.