Apesar de seus milhares de fãs, a figura de James Bond não combina com a imagem que Hollywood deseja agora projetar ao mundo. O homem que seduz uma mulher atrás da outra enquanto bebe Dry Martini e mata inimigos estrangeiros não é mais o herói que a sociedade de hoje exige. Isso é tão claro que os próprios produtores já anunciaram Lashana Lynch, uma atriz negra, como substituta de 007. Michael B. Jordan decidiu lançar sua própria franquia: “Sem Remorso”, disponível na Amazon Prime Video, traz um personagem pronto para ocupar o lugar de James Bond no imaginário popular. Seu nome é Clark. John Clark.

ESPIONAGEM Tom Clancy: mestre dos best-sellers inspirados na Guerra Fria (Crédito:Divulgação)

O peso e a influência de Michael B. Jordan na indústria cinematográfica atual é o que garante o sucesso desse projeto, além do físico conquistado na academia – e que tanto encanta o público feminino –, atributo essencial nos dias de hoje. Seguido por milhões de fãs nas redes sociais, ele foi eleito o homem mais sexy do mundo pela revista americana “People”.

Considerado um ator que combina prestígio e popularidade, seu trabalho começou a chamar a atenção ainda na adolescência, na premiada série The Wire”. Depois teve destaque em uas superproduções dos estúdios Marvel como Tocha Humana, em “Quarteto ntástico”, e no papel de Eric “Killmonger” Stevens, o atormentado vilão de “Pantera Negra”, onde contracenou com Chadwick Boseman. Agora, com “Sem Remorso”, ele é um forte candidato ao panteão que já foi um dia dos atores que interpretaram James Bond.

Nobre promessa

O personagem John Clark nasceu nas páginas de Tom Clancy (1947-2013), autor dos best-sellers “A Caçada ao Outubro Vermelho” e “Jogos Patrióticos”, entre outros clássicos da literatura de espionagem inspirada pelo período da Guerra Fria. Assim como o britânico Ian Fleming eternizou James Bond em suas tramas contra caricatos vilões europeus, Clancy dedicou a John Clark nada menos que 17 obras – a maioria delas contra os russos. O personagem só perde para Jack Ryan, protagonista principal da obra Clancy e bem mais próximo de um 007 americano.

O curioso é que John Clark é uma espécie de spin-off de Ryan, ou seja, nasceu como uma espécie de coadjuvante do espião. Ryan, aliás, também tem sua própria série na Amazon – quem sabe o veremos ao lado de Clark no futuro.

AÇÃO Cenas de “Sem Remorso”: primeiro episódio da nova franquia (Crédito:Divulgação)

A franquia de Michael B. Jordan tem tudo para ser bem sucedida: cenas de ação alucinantes, bons personagens e um protagonista carismático e atraente. Ao contrário de James Bond, que nunca se casou e dava em cima de todas as garotas, John Clark é um oficial da marinha que passa a agir por conta própria para vingar a morte da sua família (isso não é spoiler, acontece logo no início do filme). É tão atormentado pela morte da esposa, que exige que os inimigos pronunciem o nome dela antes de morrer. É ou não um herói para se apaixonar? Apesar de recém-lançado, o sucesso já garantiu a sequência, que será inspirada em “Rainbow Six”, livro de Clancy lançado em 1998 – “Sem Remorso” é de 1993. O simples anúncio deixou o público jovem animado: a obra foi adaptada para um videogame em 2014 e vendeu cerca de um milhão de cópias. O próprio Jordan confessou que era viciado no jogo antes mesmo de saber que ele era baseado em um livro.

Há outro diferencial que torna “Sem Remorso” um filme que se destaca entre as novas produções de ação – mas é atrás das câmeras. É o diretor italiano Stefano Sollima, mais conhecido pela adaptação do livro “Gomorrah”, de Roberto Saviano, e por “Sicário 2: Dia do Soldado”, com Benicio del Toro e Josh Brolin. Seu talento é hereditário – tiroteios e cenas de lutas certamente correm em suas veias: ele é filho de Sergio Sollima, um dos mestres do “western spaghetti”, os faroestes italianos nos anos 1960 e 1970. Esteve à frente de “Revolver” e “Sandokan”, estrelados por Charles Bronson e Teddy Savallas.

O público terá a possibilidade de acompanhar Michael B. Jordan em uma série de produções antes do próximo episódio de sua franquia. Ele já finalizou sua participação em “A Journal for Jordan”, projeto encabeçado por Denzel Washington, e se prepara para estrear atrás das câmeras: após atuar em “Creed 2”, vai dirigir “Creed 3”, onde fará o papel do boxeador Adonis Creed. A propósito, a inicial B, de Michael B. Jordan, vem da palavra Bakari. Na língua africana suaíli, significa “nobre promessa”. A tradução já não vale mais: se Michael B. Jordan era uma promessa, ela acaba de ser cumprida.