-Penso em cada bobagem. Sabe coisa de quem não tem o que fazer?
– Acho que sei…
– A tua vida está paradona também?
– Total.
– A minha muito paradona. Falta de panela.
– E eu, então? Em que besteirada você anda pensando?
– Eu sou chamado de feijão carioca…
– Disso eu sei faz tempo. Aliás, o maior luxo, né?
– Mais ou menos, a coisa é meio esquizo…
– Esquizo? Vixi, isso é falta de panela mesmo.
– Por que eu sou chamado de feijão carioca se sou consumido mesmo em São Paulo?
– Sei lá, cara.
– Cara, não. Feijão!
– Esquece. Nesse País é tudo ao contrário…
– Você não é chamado de feijão preto?
– Sou. E também nunca entendi: sou consumido no Rio de Janeiro, mas toda minha origem está na Bahia. Pira, não pira?
– Pois é… na Bahia, sucesso mesmo é o feijão de corda.
– De corda…, tô ligado, faz tempo. Melhor esquecer, cara…
– Cara, não. Feijão!
– Mudando de assunto, por que colocaram nossos preços lá no alto? Aí que panela vira sonho de feijão mesmo.
– É o governo, não sabe gerenciar o armazém, governo ruizinho!
– E por que o povo votou nele?
– Porque o homem prometia feijão barato.
– Não entendeu.
– É não entendi. O certo é não entendi. Aprendeu?
– Aprendeu…
– Desisto…
– Do povo?
– Não. Quero dizer: desisto de você… e do povo.
– Tá nervozinho?
– O povo, que votou no homem que prometeu feijão barato e está vendendo feijão caro, é bem capaz de votar novamente no homem se ele prometer feijão barato.
– Que salada…
– Salada, não. Feijão!
– Vai ver o povo não gosta de feijão barato.
– Mas, então, porque vota no homem e depois fica batendo panela vazia e pede feijão barato?
– Pois é, a gente até sai na televisão… bizarro!
– Gente, não. Feijão!
– Oba, acho que lá vem freguesa…
– Veio nada. Passou batida… viu?
– Viu.
– Viu, não. A resposta certa é vi. Aprendeu agora?
– Aprendeu.
– É aprendi…
– Aprendeu…
– Desisto mesmo. Em quem você vai votar?
– No homem. E você?
– No homem também. Afinal, ele promete feijão barato.