Jair Bolsonaro sequestrou as comemorações do Sete de Setembro para fazer campanha eleitoral escrachada e renovar as insinuações golpistas. Logo no início do dia, ele mostrou como usa máquina pública a seu favor em afronta à lei eleitoral. Deu uma entrevista para a TV Brasil, estatal multimilionária que se transformou em instrumento de propaganda, para exaltar sua gestão.

O discurso, que deve dar o tom de suas manifestações antidemocráticas ao longo do dia, misturou motes de sua propaganda eleitoral com a “defesa da liberdade”. A ironia é que o único político que ameaça restabelecer a ditadura e caçar os direitos individuais no País é o próprio Bolsonaro. Citou momentos de ruptura do passado e ameaçou que a “história pode se repetir”. É a senha para mobilizar seus aliados radicais contra as instituições no caso de perder as eleições, como todas as pesquisas apontam.

Em seu discurso para apoiadores em Brasília, após a passagem dos fardados, tentou adaptar a fala golpista para o propósito eleitoral. Tascou m beijo constrangedor na primeira-dama (é assim que vai reconquistar o voto feminíno?), atacou os institutos de pesquisa, disse que vai jogar “dentro das quatro linhas da Constituição” (já que não tem força para dar uma rasteira na Carta), procurou se identificar com o eleitorado conservador e tentou demonstrar que o “povo” está a seu lado. Essa retórica alinhada com o propósito de seu QG eleitoral, de uma campanha mais moderada, não combina com os ataques do capitão que serviram para criar suas milícias extremistas.

Com esse discurso mal-adaptado, Bolsonaro não conquista o eleitor moderado e frustra os radicais que reuniu nos últimos anos. Para deixar claro sua situação, no palanque militar em Brasília faltaram os chefes dos outros Poderes (Congresso e Judiciário), que não quiseram servir de enfeite para a parada cívico-eleitoral. Foram substituídos pela presença extravagante do empresário Luciano Hang, investigado no STF pelo suposto financiamento de atos antidemocráticos.

Para o País, é lamentável que as festividades da Independência, bancadas com dinheiro público, tenham sido instrumentalizadas por um ex-militar de baixa extração, expulso do Exército, que abusa do generoso espaço concedido pela democracia para miná-la por dentro. As próprias Forças Armadas estão saindo diminuídas. Não conseguiram se dissociar desse personagem, tento transformado suas tropas em figurantes  de um subcaudilho.

A discussão sobre o Bicentenário vai transcorrer apesar desse abuso contra a Constituição. O novo Museu do Ipiranga, renovado como uma instituição de ponta, é um sinal de que as instituições avançam mesmo com tropeços históricos como tentativas de sublevação. Bolsonaro não é o único candidato  a ditador da história nacional. É apenas a expressão de um atraso que está sendo  superado de forma imperfeita e acidentada. Mas está sendo superado.