Servidor afirma que gestão Bolsonaro solicitou dados que ligassem Lula a facções

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Ex-presidente Jair Bolsonaro Foto: AFP

O servidor do Ministério da Justiça Clebson Ferreira de Paula afirmou em depoimento ao STF (Supremo Tribunal Federal), nesta segunda-feira, 14, que recebeu ordens durante a gestão de Jair Bolsonaro (PL) para produzir dados que ligassem Luiz Inácio Lula da Silva (PT) a facções criminosas.

A declaração ocorreu no âmbito do inquérito que apura a suposta tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022, segundo a CNN. O servidor, à época analista de inteligência na Coordenação-Geral de Inteligência do Ministério da Justiça, relatou que foi orientado a levantar uma “correlação estatística” entre os votos no segundo turno do pleito em territórios dominados pelo crime organizado no Rio de Janeiro.

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“Havia chegado um pedido para tentar ver a análise de correlação estatística da concentração de votos em territórios do Comando Vermelho no Rio de Janeiro, para saber se havia correlação do ponto de vista de verificar se o candidato Lula tinha maior concentração de votos em áreas dominadas por facção criminosa”, disse o servidor.

Clebson afirmou que o pedido chamou sua atenção e chegou a comentar com Camila, com quem era casado na época. Em outro momento, o servidor relatou que também foi orientado a fazer análises de dados sobre o segundo turno das eleições, incluindo métricas estatísticas, segurança durante o pleito e registros de violência ligados às urnas.

O STF iniciou nesta segunda o depoimento das testemunhas da PGR (Procuradoria-Geral da República) e das defesas dos réus dos núcleos 2, 3 e 4 que respondem na Corte pelo crime de tentativa de golpe de Estado. As oitivas seguem até quinta-feira, 23.

Entre as testemunhas convocadas estão políticos como os senadores Hamilton Mourão (Republicanos-RS), Rogério Marinho (PL-RN), Rodrigo Pacheco (PSD-MG), o deputado Eduardo Pazuello (PL-RJ), além do presidente do PL, Valdemar Costa Neto, e do tenente-coronel Mauro Cid.

Réus do núcleo 2:

  • Fernando de Sousa Oliveira (delegado da Polícia Federal);
  • Filipe Garcia Martins Pereira (ex-assessor internacional da Presidência da República);
  • Marcelo Costa Câmara (coronel da reserva do Exército e ex-assessor da Presidência);
  • Marília Ferreira de Alencar (delegada e ex-diretora de Inteligência da Polícia Federal);
  • Mario Fernandes (general da reserva do Exército);
  • Silvinei Vasques (ex-diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal).

Núcleo 3: militares de alta patente e um agente da PF, incluindo os coronéis Bernardo Romão Correa Netto e Márcio Nunes de Resende Jr.

Núcleo 4: militares da reserva e agentes ligados a ações logísticas e operacionais da suposta tentativa de golpe.