A qualidade da operação dos ônibus na cidade de São Paulo teve queda em avaliação feita pela São Paulo Transporte (SPTrans), órgão da Prefeitura que administra o sistema. A piora ocorre no ano em que a idade média da frota atingiu o patamar mais alto desde 2006, com coletivos com mais de 10 anos operando o serviço, além de redução do total de viagens. O custo do sistema, porém, está mais elevado neste ano.

A avaliação mensal da operação dos coletivos é feita pelo Índice de Qualidade do Transporte (IQT), nota que a SPTrans dá às empresas, considerando o número de falhas, cumprimento de partidas programadas, limpeza e conservação de veículos, entre outros itens. As notas são usadas no cálculo da remuneração das empresas.

Entre as 32 empresas que operam no sistema, só seis foram avaliadas com desempenho bom em agosto, dado mais recente. Em janeiro, 20 tinham essa nota. O total de empresas com serviço considerado regular subiu de 11 para 23 no período. Três tiveram nota ruim em agosto – era uma em janeiro.

A tradução desses números, segundo passageiros, está no maior tempo de viagem e nos atrasos. “O problema maior é a demora”, afirma a estudante Emily Santos, de 18 anos, usuária de linha que sai de Pirituba e vai até perto do Parque do Jaraguá, na zona norte. Segundo as planilhas da SPTrans, deveriam ser seis partidas por hora – uma cada dez minutos. Emily afirma já ter esperado 20 minutos por um coletivo.

Entre janeiro e agosto, dado mais recente, houve 1,909 bilhão de viagens pelos ônibus da cidade – cada viagem significa uma vez que a catraca é girada. Ante o mesmo período do ano passado, houve queda de 22 milhões de viagens. Já o total de ônibus em circulação caiu de 14,7 mil veículos em janeiro para 14,4 mil em setembro.

A quantidade de linhas canceladas cresceu. No primeiro semestre, foram 33 linhas canceladas e 13 abertas. No mesmo período do ano passado, foram 13 canceladas e 13 novas. No total, a cidade tem 1.342 linhas.

“Antes, eu tomava só um ônibus para ir para o centro. Agora, tenho de tomar um ônibus, descer no Terminal Pirituba, esperar por mais um ônibus e aí seguir viagem”, reclama a dona de casa Vera Gomes, de 61 anos, moradora do Jardim Líbano, também na zona norte, que usa o ônibus três vezes por semana para fazer um curso no centro.

A frota de ônibus comuns também está mais velha, com idade média de seis anos – o que vem aumentando desde 2014. Pelos contratos originais da SPTrans com as empresas, a cidade não poderia ter veículos com mais de 10 anos em operação. Mas basta ficar nos pontos e terminais para ver coletivos fabricados em 2006. Todos os veículos têm o ano de fabricação e o mês de entrada em operação escrito abaixo da janela do motorista. Ônibus mais antigos podem resultar em mais defeitos e, por isso, atrasos. A SPTrans diz que veículos novos foram postos em operação.

Apesar da queda de viagens e de veículos, o sistema está mais caro. O gasto da gestão João Doria (PSDB) com subsídios às empresas de ônibus entre janeiro e setembro foi 18% maior (R$ 337 milhões, em valores reais) do que no mesmo período de 2016. Esse montante pago pela Prefeitura, que já passa de R$ 2,2 bilhões, complementa a receita obtida com a venda de passagens. A tarifa unitária congelada a R$ 3,80, promessa de campanha de Doria, também contribui para o aumento do subsídio.

A SPTrans espera reduzir esse gasto com o combate a fraudes no bilhete único e mudanças em gratuidades, como o passe estudantil.

Contrato

A piora na avaliação ocorre em meio a atrasos da Prefeitura em lançar nova licitação para o serviço, que havia sido prometida para agosto. Os contratos vigentes são aditivos a acordos assinados em 2003, que se transformaram em contratos emergenciais assinados para não interromper a operação. A Prefeitura afirma esperar definição da Câmara Municipal para publicar os novos editais.

Porta-voz do setor e presidente do Sindicato das Empresas de Transporte Coletivo Urbano de Passageiros de São Paulo (SPUrbanuss), Francisco Christovam relaciona o envelhecimento da frota à demora para realizar a nova licitação. “Tive hoje (ontem) reunião com o BNDES (o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) para tratar disso. O problema é que não temos contrato vigente, os nossos terminam no fim do ano. Assim, não temos garantias para oferecer aos bancos quando buscamos financiamento para a compra de veículos novos”, diz. “Empresário não gosta de ônibus velho. Dá mais manutenção, aumenta os custos.”

Para ele, “os dados mostram a consequência e não a causa” dos problemas. Christovam cita buracos no asfalto e semáforos quebrados como fatores que contribuem para atrasos. Além disso, pondera que a redução de coletivos em circulação não significa necessariamente prejuízo ao passageiro, uma vez que os ônibus comuns podem ter dado lugar aos veículos articulados, de maior porte.

Professor do da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP), Cláudio Barbieri destaca problemas da substituição do ônibus comum para o articulado. “Os articulados não são feitos para todas as vias. Tem lugares que, para fazer a curva, eles têm de bloquear até três faixas”, afirma. Ele também diz ser possível que buracos e semáforos quebrados prejudiquem. “A questão é descobrir o quanto atrapalham.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.