Série A da Itália registra ‘invasão’ de investidores dos EUA

SÃO PAULO, 13 OUT (ANSA) – Por Renan Tanandone – A venda do Genoa para o fundo de investimentos 777 Partners aumentou para oito o número de clubes da Série A da Itália com donos estrangeiros. Seis deles são administrados por americanos; um (Bologna), por um canadense; e outro (Inter de Milão), por um chinês.   

Além do Genoa, aquisição mais recente da lista, Fiorentina, Milan, Roma, Spezia e Venezia também são controlados por pessoas dos Estados Unidos.   

Já na Série B da Itália, Spal, Pisa e Parma, por exemplo, também estão em mãos americanas. O clube toscano, aliás, que é comandado pelo empresário Alexander Knaster, é o atual líder da segunda divisão e uma das grandes surpresas do campeonato.   

Em entrevista à ANSA, o economista Cesar Grafietti explicou que essa grande quantidade de americanos no futebol italiano se deve a uma “soma de fatores”.   

“Começando pelo mais curioso, a Itália é um país que atrai muita atenção dos norte-americanos pelo aspecto histórico, cultural e até alimentar. Sem contar que há uma grande representação dos italianos na formação americana como nação. Depois, os clubes italianos estão baratos em relação aos ingleses e espanhóis. Por fim, os norte-americanos analisam investimentos sob diversas formas de ganho, e uma delas é o desenvolvimento imobiliário a partir da reforma ou construção de novos estádios. Isso permite um desenvolvimento no entorno dessa instalação e multiplica retornos sobre os investimentos”, comentou Grafietti.   

Já Luiz Antonio Ramos, mestre em gestão do esporte, apontou que os empresários dos Estados Unidos estão “conhecendo melhor” o potencial do futebol, um esporte ainda em crescimento na América do Norte.   

“Dois motivos podem explicar esses investimentos. O primeiro é que os norte-americanos estão conhecendo melhor o potencial do futebol, crescente nos Estados Unidos e muito amplo na Europa. O segundo é que os clubes também estão se adequando a receber investidores externos, quebrando barreiras que existiam algum tempo atrás”, afirmou.   

– Pontos positivos e riscos – A chegada de um investidor estrangeiro pode elevar os ânimos e aumentar os horizontes de uma equipe. Em Florença, por exemplo, o desembarque de Rocco Commisso melhorou as finanças da Fiorentina e a qualidade do elenco, que briga na parte de cima da tabela nesta temporada.   

Após ter entrado em falência sob a gestão do russo Jurij Korablin, o Venezia retomou seu prestígio e até conseguiu voltar para a elite do futebol italiano graças aos trabalhos dos empresários americanos Joe Tacopina (atualmente presidente da Spal) e Duncan Niederauer.   

Já o empresário canadense Joey Saputo salvou o Bologna da falência e levou mais estabilidade financeira ao time. Além de dar ao rossoblù um novo e moderno centro de treinamento, as obras de revitalização do Estádio Renato Dall’Ara estão previstas para começar em 2023.   

Grafietti destacou que há muitos pontos positivos em um clube ser administrado por um estrangeiro, mas ressaltou que os torcedores precisam ter “paciência” e que esse processo comporta alguns riscos.   

“Há injeção imediata de recursos, eventualmente algum ganho de governança e gestão e novos estádios. Mas há um elemento importante chamado paciência. A Série A vem aumentando seu nível de competitividade, e isso gera maior disputa e riscos de queda para a Série B e menor chance de ocupar posições de destaque na elite. O risco, portanto, é o investidor desistir do negócio antes da maturação”, comentou.   

Ramos, no entanto, lembrou que os americanos estão acostumados a lidar com um alto nível de profissionalismo nos esportes, como a NBA e a NFL. Em sua opinião, eles vão fazer “evoluir” a gestão dos clubes italianos, podendo até recolocá-los entre os melhores do mundo.   

– Árabes, americanos e chineses – Ao contrário de Inglaterra e França, a Itália acabou não sendo alvo de investidores árabes, que transformaram Manchester City e Paris Saint-Germain em duas potências mundiais.   

O Newcastle pode trilhar o mesmo caminho, já que foi comprado por um grupo liderado pelo Fundo de Investimento Público (PIF) da Arábia Saudita. Segundo a imprensa britânica, o negócio gira em torno de 300 milhões de libras (R$ 2,3 bilhões).   

Em solo italiano, Internazionale e Milan tiveram experiências chinesas em seu comando. Li Yonghong administrou os rossoneri entre 2017 e 2018, mas deixou o cargo após não ter conseguido reembolsar os 32 milhões de euros que o fundo americano Elliott havia emprestado para um aumento de capital.   

A Inter de Milão teve uma experiência diferente, já que conquistou novamente um Scudetto depois de mais de 10 anos. No entanto, o grupo chinês Suning virou alvo de críticas da torcida ao vender alguns dos principais jogadores nerazzurri na última janela de transferências, como Romelu Lukaku e Achraf Hakimi.   

Grafietti afirmou que gestores americanos costumam mirar oportunidades que “vão além do futebol”, enquanto árabes e chineses estão em busca de prestígio.   

“Os norte-americanos querem ganhar dinheiro e por isso olham oportunidades que vão além do futebol. Já os árabes e os chineses querem retorno de imagem, estão mais dispostos a gastos em busca de conquistas”, concluiu. (ANSA).