O ministro da Economia argentino, Sergio Massa, um peronista de centro-esquerda, e o líder ultraliberal e antissistema Javier Milei disputarão no segundo turno a presidência, de acordo com resultados parciais divulgados neste domingo (22).

Massa, um advogado de 51 anos e candidato da coalizão União pela Pátria, obteve 36,15% dos votos, enquanto Milei ficou com 30,31%, segundo a apuração de 83,26% das urnas.

Nos arredores da sede da campanha da União pela Pátria, ouvia-se trombetas e tambores. Cerca de dois mil simpatizantes reunidos do lado de fora gritavam “Massa presidente!”.

“Massa fez uma campanha muito boa, especialmente no final. Ele se conectou com as pessoas e o peronista percebeu que do outro lado está o inimigo do povo”, disse à AFP o pedreiro Jonatan Pagano, de 36 anos.

Dora Castro, uma médica de 69 anos, afirmou que “votar em democracia é sempre maravilhoso, e queremos continuar vivendo assim”.

Massa, a principal figura do governo de centro-esquerda neste país imerso em uma crise econômica que parece não ter fim, com inflação de 140%, optou por permanecer no cargo de ministro com a ideia de que “a campanha é a gestão”.

– O segundo turno –

Estas eleições foram marcadas pelo crescimento de Milei, que era o favorito nas pesquisas após sacudir o cenário político da Argentina.

“Estamos preparados para fazer o melhor governo da História”, declarou Milei ao votar neste domingo, dia em que completou 53 anos.

A chegada do candidato da coalizão Liberdade Avança em seu local de votação agitou a multidão, que o aclamou e lançou flores.

Já à noite, em frente à sede da campanha de Milei, Gastón Rivero, de 35 anos, parecia surpreso. “Não esperava esse resultado”, contou à AFP, embora tenha expressado sua confiança em uma vitória no segundo turno.

O deputado brasileiro Eduardo Bolsonaro, filho do ex-presidente Jair Bolsonaro, acompanhou o candidato ultraliberal. “Acredito que no primeiro ou no segundo turno, Milei vencerá, que esse movimento é imparável, que as pessoas não estão aqui porque foram pagas, estão voluntariamente”, afirmou.

Para o analista político e consultor Raúl Timerman, Milei acabou assustando uma parte do eleitorado com suas propostas extremistas e não conseguiu aumentar seu número de votos em comparação com as primárias de agosto, quando obteve o primeiro lugar com 30%.

Milei pretende dolarizar a economia, acabar com o Banco Central, reduzir drasticamente os gastos públicos, eliminar o Ministério da Mulher e revogar a lei do aborto, entre outras propostas.

“A motosserra (que ele exibia como símbolo dos cortes que visa fazer) que no início parecia engraçada, tornou-se um elemento assustador”, explicou.

Por outro lado, Massa “foi percebido como o mais capaz de presidir o país em uma situação de caos como a que estamos vivendo”, acrescentou.

– Sem parabéns –

Patricia Bullrich, ex-ministra da Segurança e candidata da aliança de centro-direita Juntos pela Mudança, ficou em terceiro lugar (23,71%).

A líder de direita, porém, não revelou a quem apoiará no segundo turno. “Nossos valores não estão à deriva, não se vendem nem se compram, não os vamos negociar”, declarou em seu primeiro discurso após a derrota.

Massa e Milei disputarão o segundo turno em 19 de novembro. Para vencer no primeiro turno, alguém teria que obter 45% dos votos ou 40% com uma diferença de 10 pontos em relação ao segundo colocado.

Com presença na política desde 2021, quando foi eleito deputado, Milei atraiu em especial o voto de homens jovens de classes média e baixa, segundo pesquisas de opinião, ainda que sua figura tenha influência em todos os setores da sociedade.

Juan Negri, cientista político da Universidade Torcuato di Tella, destacou que a sociedade argentina vive “um momento de muita frustração” e atravessa “um período de antipolítica”.

– Contra o status quo –

Vivendo na terceira maior economia da América Latina, historicamente os argentinos têm orgulho de sua ampla classe média. Porém, a tendência mudou na última década, e a taxa de pobreza chega a 40% da população.

Com a economia estagnada, em 2018 o país assinou um compromisso com o Fundo Monetário Internacional para um programa de crédito de 44 bilhões de dólares (R$ 160,8 bilhões, na cotação da época), que exige uma redução significativa do déficit fiscal.

Além da presidência, os argentinos definiram neste domingo metade das cadeiras da Câmara dos Deputados e um terço do Senado. A participação foi de 74% dos 35,8 milhões de eleitores.

O novo presidente assumirá o cargo em 10 de dezembro, para um mandato de quatro anos.

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