Sergio Krakowski lança ‘Boca do Tempo’; novo álbum une voz, pandeiro e memória

Sergio Krakowski
Foto: Lucca Mezzacappa/Divulgação

Nesta quinta-feira, dia 16 de julho, a gravadora Rocinante apresenta “Boca do Tempo“, o novo e aguardado álbum do renomado pandeirista, compositor e pesquisador Sergio Krakowski. Marcando uma nova etapa na carreira do músico, que há mais de duas décadas se dedica à experimentação musical, este disco inédito coloca a voz e a palavra no centro de sua obra, entrelaçadas ao improviso livre, ao pandeiro e à eletrônica.

“Foi no primeiro dia do ano, quando as duas pontas se encontram, que entendi a essência deste disco: o elo”, revela Sergio Krakowski. A inspiração para essa virada artística veio de um momento pessoal profundo: a perda de seu pai, Osvaldo. “A boca do tempo. Passou, então, a ser inadiável consolidar uma resposta; passou a ser imprescindível usar também a boca, a voz, o ar”, explica o artista, transformando a dor em uma potente expressão vocal.

“Boca do Tempo”: Uma Travessia Entre Perda e Renovação

Composto por nove faixas, “Boca do Tempo” é um disco que narra uma travessia entre a morte do pai e o nascimento do filho de Sergio. O álbum, gravado em Araras após dezenas de apresentações que moldaram seu som, tem produção de Pedro Durães e direção artística do próprio Sergio Krakowski e de Sylvio Fraga.

A tensão entre palavra e ritmo se manifesta nas chamadas Engrenagens Sonoras de Ativação: pequenos poemas rítmicos desenvolvidos a partir de uma técnica vocal inovadora, inspirada na fala percussiva popular brasileira. “Percebi que a forma popular de ‘falar um ritmo’ no Brasil não é aleatória”, explica Krakowski. Ao aplicar essa estrutura às sílabas das palavras, ele cria “células percussivas de sentido”, como em “Nunca ninguém não quer” e “Dongueragan“, esta última escolhida como single e já disponível nas plataformas de áudio.

“‘Dongueragan’ vem do verso ‘Don’t get a gun to get to God’. A letra segue uma regra estrita: alternância entre sons feitos com a ponta e a parte de trás da língua. Por isso escolhi essa faixa como single: ela é pequena, direta, só voz e pandeiro e sintetiza a espinha dorsal do disco”, detalha o músico.

Raízes Pessoais e Posicionamento Político

A faísca inicial para o disco veio com a faixa “Alga”, composta após a morte do pai. “A primeira imagem dessa música nasceu de uma das cenas iniciais do filme Solaris, onde as algas dançam na água. […] Quando meu pai morreu, me veio essa vontade de desenvolver essa canção falando a respeito da ‘boca do tempo’ que consome a nossa experiência terrena”, compartilha Krakowski.

A experiência da perda, somada à conjuntura política global, também fez surgir a urgência da voz como um posicionamento. “Além de responder ao chamado que diz respeito ao inconcebível que é a morte, a voz cumpre o papel de posicionamento político frente à ascensão do fascismo no mundo”, enfatiza.

Além de “Alga” e “Dongueragan”, o álbum conta com faixas como “Renegue Não”, que questiona a relação entre fome e paz, e “Chica”, uma homenagem a Chiquinha Gonzaga e outras mulheres criadoras.

Inovação e Expressão na Percussão Brasileira

Sergio Krakowski é um dos nomes mais inventivos da percussão brasileira contemporânea. Bacharel e mestre em Matemática pela UFRJ, com doutorado em Computação Musical, o artista é pioneiro no desenvolvimento de softwares que permitem ao pandeiro controlar projeções de vídeos, geração de loops e efeitos em tempo real, estabelecendo um diálogo único entre músico e máquina. Essa fusão entre técnica, invenção e expressão emocional atinge em “Boca do Tempo” sua forma mais pessoal e visceral até aqui.

“Aprendi que o ato de tocar é, pra mim, a busca por um estado de consciência absoluta. Com o tempo, entendi que aceitar as minhas limitações me permite acessar esse mundo do som com mais clareza”, conclui Krakowski.

Boca do Tempo” estará disponível em vinil e em todas as plataformas digitais a partir de 16 de julho, lançado pela gravadora Rocinante.


Tracklist:

LADO A

  1. Elebara (6:21)
  2. Nunca ninguém não quer (6:09)
  3. Dongueragan (2:15)
  4. Avalanche (3:36)

LADO B

  1. Chica (7:42)
  2. Elo (3:56)
  3. Alga (2:08)
  4. Dentro do Dentro (2:26)
  5. Renegue não (3:06)

Todas as faixas foram compostas por Sergio Krakowski, exceto “Elebara”, que é de domínio público.