Ao longo dos últimos três meses, as iranianas ocuparam diariamente as ruas do país em protestos pelo assassinato da jovem Masha Amini, 22 anos, em uma delegacia de Teerã.

Masha foi presa pela chamada “polícia moral” porque estaria usando de forma inadequada o véu islâmico. Na semana passada, quando já se contabilizavam mais de trezentas mortes devido à violenta repressão, o governo do Irã anunciou que a “polícia moral será desfeita muito em breve”.

De tão obscurantista e fundamentalista que é o regime político do país, até mesmo órgãos oficiais da imprensa desconfiam daquilo que as autoridades dizem – e também a mídia internacional e entidades de direitos humanos de diversas nações estão colocando em dúvida as promessas do procurador-geral do Irã, Hojatolislam Mohammad Jafar Montazari, tanto no que diz respeito à guarda especial da moralidade quanto a alterações na obrigatoriedade do uso de véu. Ainda que os governantes queiram blefar, a situação lhes ficou difícil. A morte de Masha foi a pólvora; uma mentira oficial será a explosão definitiva.

Greve geral contra o véu

ATTA KENARE

As manifestações já têm o apoio de comerciantes em pelo menos dezenove cidades do país que decretaram greve geral (foto). Trata-se do maior desafio ao regime dos aiatolás desde a Revolução Iraniana de 1979.

Maquiavel na política brasileira

TEORIA E PRÁTICA Lula, Sarney e Maquiavel: o pernambucano tem “virtù”; o maranhense, “fortuna”

O que o filósofo renascentista florentino Nicolau Maquiavel, considerado o fundador da ciência política moderna, tem a ver com o Brasil de hoje? A resposta: tudo a ver. Isso fica claro no inteligente livro do também filósofo e cientista político Renato Janine Ribeiro, ex-ministro no governo de Dilma Rousseff.

De sua autoria, chega às livrarias Maquiavel, a democracia e o Brasil, obra fulcral para o entendimento de nossa trajetória republicana. A parte mais atraente e significativa do livro de Janine é a que trata dos princípios básicos contidos em O Príncipe — virtù e fortuna.

Janine mostra como a política brasileira pendula entre esses dois fatores, sem que um personagem tenha conseguido reuni-los em si. Explicando do modo mais simples possível os termos de Maquiavel: virtù é a capacidade de planejamento e prática de ações que levem alguém ao poder; fortuna é sorte. Exemplos: José Sarney chegou à Presidência da República somente devido à morte de Tancredo Neves (fortuna); Lula seguiu uma meta que ele próprio traçou para alcançar por três vezes (uma reeleição) o poder (virtù).

Mais um presidente peruano é afastado do cargo

PRESO Pedro Castillo (sentado à dir.) na Prefeitura de Lima sob a custódia da Polícia Nacional e autoridades do Judiciário: golpe frustrado

O sempre politicamente instável Peru tem mais um presidente destituído. Em um período de onze anos, seis chefes de Estado deixaram o cargo devido a acusações de corrupção após embates com o Parlamento. Pedro Castillo, porém, foi afastado na quarta-feira 7 porque agrediu diretamente a democracia: dissolveu o Congresso.

TENSÃO O ex-presidente peruano, um dos líderes da esquerda, foi alvo dos manifestantes: menos de 30% de apoio popular

Fechar a Casa do Povo, decretar Estado de exceção e convocar eleições imediatas para o Legislativo foi um sonho golpista de Castillo, que durou não mais que quatro horas. Ele foi abandonado por seus ministros e diplomatas, o Congresso não acatou os seus decretos e declarou vaga a Presidência da República, convocando a vice-presidente Dina Boluarte para assumir o poder.

EMPOSSADA Dina Boluarte assumiu o governo após o Parlamento ter declarado vaga a Presidência: tentativa de conciliação

Castillo acabou preso e levado à Prefeitura de Lima, capital do Peru, por policiais e membros do judiciário. A breve passagem de Castillo, primeiro mandatário de esquerda na história do Peru como chefe do Executivo, foi marcada por frágil articulação política. Não houve o menor entendimento com o Legislativo e sua popularidade despencou. Após dezesseis meses, o governo termina com menos de 30% de apoio popular.