Nasci e cresci em Brasília, a capital mundial do descolamento da realidade, além, é claro, da corrupção, corporativismo, cinismo, mentira, desperdício etc…, e com dez para onze anos de idade me mudei para Belzonte, Minas Gerais, sô, a capital mundial, não das coisas ruins listadas acima, mas do Galão da Massa.

Vivi, portanto, o período mais duro do regime militar, e como criança jamais notei qualquer anormalidade, digamos, democrática. O máximo que me lembro, além de um soldado armado com fuzil na porta de casa, já que éramos vizinhos de um ministro de Estado, é de alguns comentários jocosos dos adultos sobre os “milicos”.

Um dos programas mais aguardados e alegres do ano era o desfile de 7 de setembro, no Eixão (avenida enorme que corta a cidade). Famílias inteiras, inclusive a minha, se reuniam para assistir às Forças Armadas (soldados e equipamentos), bandas de música e outras atrações em homenagem à Independência do Brasil.

Piqueniques, músicas ufanistas, bandeirinhas… é interessante, ou melhor, triste ver como regredimos como sociedade. Não pelo abandono ufanista, porque uma idiotice imensa (“o patriotismo é o último refúgio dos canalhas”, Samuel Johnson, 1709-1784), mas por transformarmos a data histórica em ato político da pior qualidade.

Jair Bolsonaro, o verdugo do Planalto, é mestre em se apropriar do patrimônio alheio, seja público ou privado. Apropriou-se, por exemplo, dos salários de funcionários fantasmas e de verbas parlamentares (para comer gente). Apropriou-se, também, da camisa da seleção brasileira e das cores verde e amarela, além da burrice de milhões de seguidores, hehe.

O amigão do Queiroz também se apropriou do Dia da Independência, desde o ano passado. Transformou uma data cívica (idiota) em uma data eleitoreira (ainda mais idiota). Milhares de bolsonáticos irão às ruas, não para celebrar o País, mas seu “mito”. Por quê? Bem, vá saber, não é mesmo? Talvez pela inflação, juros, mortes por covid-19.

Em 2021, no Rio de Janeiro, a grande atração foi Fabrício Queiroz, o miliciano que entupiu a conta da primeira-dama, Michelle Bolsonaro, com 90 mil reais em cheques. É o mesmo que confessou as rachadinhas no gabinete do bolsokid Flávio, o senador dos panetones e da mansão milionária, comprada muito abaixo do preço de mercado.

Aliás, além de ter parte financiada com juros subsidiados por banco estatal, o palacete foi registrado na surdina, em um cartório fora de Brasília, e faz parte do fabuloso patrimônio imobiliário do clã Bolsonaro, cuja metade foi adquirida em operações envolvendo dinheiro vivo, fora do sistema bancário. Isso é que é independência e patriotismo, certo?

Este ano, além do Queiroz, que é candidato a deputado federal, com apoio do devoto da cloroquina, seu amigão de décadas, teremos outros patriotas, em nome de Jesus, obviamente, ao lado do Messias: Ciro Nogueira, Arthur Lira, Fernando Collor, Ricardo Barros e outros figurões próximos à tchutchuca do centrão. Independência ou morte!

A horda da terceira idade branca, vestida pela Nike, com óculos escuros pendurados na Amarelinha, cabelos brancos ou tingidos de louro-banana, sem falar nos carecas, barrigas protuberantes e pelancas à mostra, irá pedir, como sempre, o fechamento do Congresso e do STF, e a aplicação do artigo 142 (?), sob as ordens do patriarca das rachadinhas.

A multidão irá bradar contra o Xandão, contra o meliante de São Bernardo, contra as urnas eletrônicas, contra a imprensa, especialmente a Foice de São Paulo e a Globolixo, e irá glorificar um Deus e um Jesus mais fakes que nota de 3 reais, pois o Deus e Jesus bíblicos jamais cerrariam fileiras com gente que prega morte, homofobia e racismo.

No final do dia, cansados pela maratona sobre quatro apoios, se é que entendem a ironia (múúú), terão a mais absoluta certeza de que será Jair Bolsonaro o vencedor das eleições, pois pesquisa que vale é a das ruas, e não as outras, manipuladas pelos comunistas. Ai, ai… a semana será longa, viu? E ainda terei de aguentar as tias da Havan. Putz!