Ser mau é muito mais fácil do que ser bom.

Ser bom dá trabalho.

Pense na quantidade de tarefas que você precisa executar para ser uma pessoa boa ao longo das 24 horas de cada dia, por toda a sua existência.

Tarefas que aprendemos graças ao imenso esforço de nossos pais e professores, seres humanos também muito bons, na maioria dos casos.

Excluo desta lista meu professor de matemática da 7º série do ensino fundamental, mas não nutro ódio por ele, porque pessoas boas não odeiam.

Em sua eterna ode pela bondade, a pessoa boa precisa acordar cedo, precisa dizer “bom dia”, “por favor”, “obrigado” e “de nada” para outros seres humanos que, muitas vezes nem ao menos sabem o nome.

E “saúde” para os que espirrarem, não se esqueça, mesmo que isso não mude nada a vida daquele que espirrou.

Quem é bom precisa escovar os dentes pelo menos três vezes por dia, afinal não vai querer impor seu mau hálito para os outros, não é mesmo?

Uma pessoa boa não fala palavrão, não é preconceituosa, não deseja que o próximo vá para lugares impublicáveis, mesmo quando merecem.

Ser uma pessoa correta, de caráter, cumpridora de suas obrigações cívicas e sociais é uma batalha realmente hercúlea.

Mais que isso, uma pessoa boa se preocupa com os outros.

“Se você, pessoa boa, entra no ônibus e dá bom dia para cada passageiro, ninguém vai às redes sociais e tuita sobre a cena”

Tem que estar atenta para as necessidades de todos que a cercam.

E se tem uma coisa que deixa maluca uma pessoa boa, é ser confundida com uma pessoa má.

Não por vaidade, imagine. Pessoas boas não são vaidosas.

Mas não querem passar por gente má porque, desconfio, inconscientemente as pessoas boas sabem que dá um trabalho danado ser como são.

Assim, acabam por se esforçar ainda mais em suas bondades cotidianas, criando o que se convencionou chamar de “círculo virtuoso”. Quanto melhores são, mais bondades fazem, tornando suas missões ainda mais estafantes nessa espiral de positividade que emana de seus seres.

Por outro lado, ser mal é molezinha.

Da carência do dentifrício (bateu saudade da Dilma?)

e o consequente mal hálito, até as grosserias ditas sem filtro, passando pelo abandono de toda e qualquer obrigação social, ser mal não requer esforços ou talentos especiais.

Basta esquecer os ensinamentos dos nossos antepassados.

E nunca, na história da humanidade, foi tão rápido se tornar um vilão, se você assim desejar.

Nunca, desde que passamos a caminhar em duas patas, tivemos tantos recursos para divulgar nossas más ações.
As redes sociais, por exemplo, provam isso todos os dias.

Se você, pessoa boa, entra no ônibus e dá bom dia para cada passageiro, ninguém vai lá e tuita sobre a cena.

Ninguém reposta no Insta aquele vídeo de você mastigando de boca fechada.

Mas fale alguma bobagem para você ver só.

É instantâneo.

De um segundo para outro você se transforma no sujeito mais repulsivo que já habitou o planeta.

Gregor Samsa, o homem-inseto de Kafka, não chega a seus pés, pelos poucos dias que você ainda sobreviver sem ser cancelado.
Ou seja, se você quer ser um vilão, não poderia ter nascido numa época melhor.

Vilões nos cercam como nunca aconteceu no passado.

Sabemos quem são.

Sabemos seus nomes.

Governam países, declaram guerras ou simplesmente falam atrocidades com a maior naturalidade do mundo.

Se multiplicam exponencialmente, todos os dias.

E nós não fazemos nada.

Apenas assistimos, embasbacados, suas maldades aflorarem bem debaixo de nossos narizes.

Lamentamos que existam, mas estamos de mãos atadas para dar um basta.

Porque, afinal, somos pessoas boas.