Juvenal é motorista de Uber. 35 anos de idade, casado, tem dois filhos.

Sujeito simples foi eletricista a vida toda, mas estava desempregado há mais de cinco anos. A mulher não trabalha. Faz uns bicos lá perto de casa, numa lojinha de roupa. Mas não dá nada aquilo. Viviam de favor até que ele passou a dirigir o carro do cunhado, no começo deste ano.

— Se não fosse o Uber, eu tava ferrado. Agora consigo ganhar até uns quatro paus por mês.

Converso com Juvenal, numa corrida de quarenta minutos. No início o papo não tinha viés político, era só aquele quebra-gelo, “nossa que frio”. Mas aos poucos Juvenal começou a derivar para assuntos mais sérios, começou a ficar clara sua admiração pelo presidente Bolsonaro.

— Eu tava ferrado nesses anos todos da ladroagem do PT. Mas esse ano mudou tudo.

Tento entender qual é a relação entre o presidente Bolsonaro e o Uber.

— Ô rapaz! Não brinca não! Se não fosse o Bolsonaro acabar com aquela corja, ninguém tava pegando Uber não.

Juvenal tem clara percepção de que a economia está aquecida com o novo governo, por isso, muita gente está garantindo o pão de cada dia, no Uber.

— Quando o País está mal, ninguém pega Uber… Nem táxi. Eu vejo aqui, no dia a dia como tá todo mundo feliz.

Pergunto ao motorista, o que imagina que seja a razão para a economia estar indo tão bem. Ele não tem certeza, mas desconfia que seja o fato de o presidente não ser “um bobão e nem ladrão.”

— Com o Bolsonaro não tem folga não, fala o que tem que ser dito, deixa o outro lá… O Paulo Guedes, trabalhar em paz.
Quero saber onde acha que o ministro da Economia fez um bom trabalho.

— Você não viu o sermão que passou nos deputados? Ria sozinho aqui. Bando de safado.

Mudo de assunto para entender até onde vai o conhecimento do Juvenal sobre outras posições do presidente. Arrisco os índios e o desmatamento da Amazônia.

— Olha, entendo que é bonito defender os indiozinhos. Mas eles lá, com celular e calção Adidas, e a gente aqui, sofrendo. Você acha certo? Entre índio e brasileiro, sou mais o brasileiro. Mas agora com o Bolsonaro a coisa vai mudar. Quer ser índio, tudo bem. Vai ser índio e trabalhar como motoboy, aí sim, quero ver. Acabou a vagabundice.

Pergunto sobre o desmatamento, já que índios são caso perdido.

— Os gringos acabaram com as florestas deles e agora vem encher o nosso saco? Ah, era só o que me faltava. Coisa de vegetarianista, isso sim.

Tento explicar que a Amazônia é importante para todo o mundo. Arrisco falar sobre o aquecimento global, mas me olha pelo espelho, com jeito de descrença.

— Ah não. Não vai me dizer que o senhor é desses.

Pergunto, “desses” quais.

— Desses que acreditam no aquecimento global.

Não quero que Juvenal desista da nossa elucidativa conversa. Então saio pela tangente. Digo que não acredito, mas é o que os cientistas dizem.

— Tudo vendido esses cientistas. Assiste no YouTube daquele… Como chama… Horacio de Carvalho, para você ver só. Tá tudo provado lá.

A conversa continuou até chegar ao meu destino.

Saio convencido de como é impressionante a eficiência retórica do nosso presidente. Um produto de fácil absorção, como Juvenal comprova, tema após tema.

Percebo que a viagem me deixou com raiva do presidente, por criar juvenais, gente que pensa que o Brasil vai bem, como o que conheci.

Então leio a pesquisa do DataFolha, que mostra que 30% do País apoia as narrativas ora mentirosas, ora confusas, ora equivocadas do presidente.

Um país com 30% de pessoas que acreditam em Bolsonaro. Instantaneamente passou raiva do presidente. Agora estou com raiva do Juvenal. Ô vida.

O DataFolha mostra que 30% do país apoia as narrativas ora mentirosas, ora confusas, ora equivocadas do presidente.