Após a violência da semana passada no Iêmen, que deixou dezenas de mortos e resultou na tomada do palácio presidencial de Aden por parte dos separatistas do sul do país, seu líder, Aidarus al-Zubaidi, se mostrou disposto a respeitar um cessar-fogo e a participar em uma reunião de paz na Arábia Saudita.
O início da grande festa muçulmana de Aíd al Adha parece ter acalmado os ânimos: nas últimas horas não foi registrado nenhum combate em Aden, cenário violento dos últimos confrontos entre separatistas e forças governamentais.
Zubaidi, presidente do Conselho de Transição do Sul (CTS), afirmou que as ações de seus correligionários em Aden estavam baseados na “legítima defesa”.
“O outro lado tinha um plano oculto para assassinar nossos chefes, provocar nossos partidários e acabar conosco”, disse.
Separatista e soldados governamentais são, em tese, aliados na coalizão liderada pela Arábia Saudita, que luta desde 2015 contra os rebeldes huthis apoiados pelo Irã.
No domingo, Riad executou um ataque aéreo contra uma posição separatista em Aden para forçar a retirada de seus combatentes de vários quartéis e do palácio presidencial, vazio, que haviam conquistado no sábado.
No discurso, Zubaidi chamou a Arábia Saudita de aliado “forte e confiável” e reiterou seu compromisso com o cessar-fogo aceito no sábado.
Ao mesmo tempo se declarou “disposto” a participar em uma reunião de paz convocada pelo reino saudita.
O governo iemenita, muito enfraquecido, havia denunciado desde os primeiros combates um “golpe de Estado”.
No domingo, o presidente Abd Rabbo Mansur Hadi, refugiado desde 2015 na Arábia Saudita, foi recebido sucessivamente pelo rei Salman e pelo príncipe herdeiro Mohammed bin Salman, indicou a agência saudita SPA.
Os combates em Aden enfraqueceram a coalizão que luta contra os rebeldes no Iêmen: Riad apoia Hadi, enquanto os Emirados Árabes Unidos, segundo pilar da coalizão, estabeleceram uma força que recebeu o nome “Cordão de Segurança”, ligada aos separatistas do CTS.
A ONU anunciou um balanço de 40 mortos e 260 feridos, incluindo muitos civis, nos confrontos que duraram vários dias.
A coordenadora humanitária das Nações Unidas no Iêmen, Lise Grande, afirmou que “é doloroso constatar que, durante o (a festa de) Aid al-Adha, as famílias choram a morte de seus familiares, em vez de celebrar em paz e harmonia”.
A guerra que afeta o Iêmen desde 2015 provocou neste país a pior crise humanitária do mundo, também de acordo com a ONU: quase 80% da população total, 24,1 milhões de pessoas, precisam de ajuda.
O Iêmen do Sul foi um Estado independente até 1990. O ressentimento na parte sul do país contra os iemenitas do norte, que eles acusam de impor a integração, continua forte.
Em janeiro, os combates entre ambos os lados deixaram 38 mortos. A situação se acalmou com a intervenção organizada pela Arábia Saudita e pelos Emirados Árabes.
O Iêmen enfrenta agora o risco de uma “guerra civil dentro de uma guerra civil”, estimou um relatório do International Crisis Group (ICG).