Em 27 de outubro de 2017, sua tentativa de secessão da Espanha fracassou. Um ano depois, uma parte do separatismo mantém vivo o sonho da independência unilateral, mas outros traçam uma guinada para o pragmatismo.

Para os separatistas, o aniversário de 27 de outubro será o de um fracasso. A proclamação de uma república catalã no Parlamento regional foi frustrada pela destituição do governo de Carles Puigdemont, exilado na Bélgica, e a intervenção da região de Madri.

“Havia um sentimento de que podíamos mudar tudo, de que podíamos ganhar. Estávamos muito perto. Mas agora vejo tudo muito escuro”, lembra Carmen Roig, militante separatista em Arenys de Munt, marco zero do processo de secessão.

Este povoado de 8.700 habitantes organizou em 2009 uma consulta popular sobre a independência que seria replicada em centenas de municípios e questionou a autodeterminação no centro da agenda política regional.

A via unilateral escolhida por seus dirigentes, após múltiplas negativas de Madri à negociação de um referendo não contemplado na Constituição espanhola, se confrontou com a intransigência do governo espanhol e a ação da justiça, que prendeu vários líderes.

“Já tem um ano e acho que estamos muito pior. Temos esses coitados na prisão, outros no exílio e não vemos como sair disso”, lamenta esta mulher aposentada por invalidez, de 59 anos.

– “Não falamos de um sonho” –

“O que aconteceu depois da declaração da República demonstrou basicamente que a independência não é possível”, afirma Antonio Barroso, analista da Teneo Intelligence.

Embora a chegada ao poder do socialista Pedro Sánchez tenha reduzido a tensão, seu governo se opõe também à autodeterminação.

Diante deste muro, os separatistas catalães não conseguiram evitar as divisões, especialmente entre os partidários de Puigdemont e do Esquerda Republicana da Catalunha (ERC), aliados ao governo regional.

A vontade de dialogar de Sánchez teve um papel primordial na ruptura, avalia Gabriel Colomé, cientista político da Universidade Autônoma de Barcelona.

“No outro lado do campo, em vez de bater numa parede” como seu antecessor conservador, Mariano Rajoy, há alguém que “começa a jogar e isso faz emergir as tensões latentes do espaço separatista”.

De um lado está Puigdemont e o espectro mais radical que insistem em manter a tensão para chegar à independência no curto prazo.

“Não falamos de um sonho, falamos de uma realidade, falamos da República catalã”, diz um anúncio da Crida Nacional, uma nova formação que lançará Puigdemont o sábado no aniversário da declaração de independência.

Três dias depois, em 30 de outubro, se apresentará no “Conselho da República”, uma espécie de governo catalão no exílio.

Um discurso que Colomé considera “surrealista”, mas no qual “um milhão de pessoas, que pensam que há um presidente legítimo no exílio e que não há democracia na Espanha, acredita piamente”.

– A difícil guinada à moderação –

No outro lado do tabuleiro, o ERC, e também parte do PDECAT, partido de onde veio Puigdemont, mantêm uma postura mais pragmática.

“Um ano depois chegaram à conclusão de que a via unilateral não é possível e têm que voltar a uma lógica de ampliar a base social para chegar a 51%” de separatistas contra 47,5% de voto obtidos nas últimas eleições, afirma Colomé.

É um “objetivo de longo prazo, em 10 ou 15 anos”, segundo Barroso. Mas “é muito difícil executar uma guinada moderada quando se mobilizou tanto a base” com promessas de sucesso imediato.

Somente o processo judicial contra 18 dirigentes separatistas, que se espera para o começo do ano, reagrupa as fileiras.

Este desencanto pode ser sentido em Arenys de Munt, com suas ruas decoradas por símbolos separatistas e laços amarelos que pedem a libertação dos dirigentes presos.

“Nós, cidadãos, estamos unidos e dispostos a dar a cara, mas precisamos de relevo nas lideranças políticas. Os que não estiverem dispostos a dar tudo, que vão embora”, assegura Josep Manel Ximenis, ex-prefeito do município e impulsionador da consulta de 2009.

Para ele, “a independência pode chegar qualquer dia, como aconteceu com o muro de Berlim, que caiu de um dia para o outro”.

“A partir de algo que não esteja previsto pode surgir um movimento de ação popular que faça cair os muros do Estado espanhol”, confia.