O independentista escocês Alex Salmond e o presidente regional catalão Carles Puigdemont, também pró-independência, se reuniram em Londres recentemente e coincidiram ao destacar as perspectivas que uma eventual saída da Grã-Bretanha da UE pode abrir para suas próprias ambições separatistas.

Em um debate organizado em maio na capital britânica pela emissora de rádio espanhola Cadena Ser, Salmond reiterou que a saída britânica do bloco levaria os escoceses a pedir um novo referendo de independência, enquanto Puigdemont avaliou que isto provaria que a UE é suficientemente flexível para permitir o ingresso automático de uma Catalunha independente, algo que vem sendo negado em Bruxelas e Madri.

“Sempre foi o meu ponto de vista e tenho dito durante anos que um referendo constitucional tende a ocorrer uma vez a cada geração política”, afirmou Salmond, que era chefe de governo da Escócia quando no referendo de independência, celebrado em setembro de 2014, venceu a permanência no Reino Unido. Ele agora é deputado do Partido Nacional Escocês no Parlamento britânico.

“De todo modo, pode ocorrer uma mudança de circunstâncias que altere estes prazos”, afirmou, referindo-se à saída britânica da UE.

“Poderia acontecer de a Escócia votar a favor de permanecer na UE, que parece o certo por grande maioria, e que o Reino Unido vote para sair, porque a Inglaterra é predominante em termos de tamanho, é dez vezes maior que a Escócia (…) Neste caso, ocorreria a mudança de circunstâncias que justificaria um novo referendo”, prosseguiu.

Para Puigdemont, a saída britânica provaria “a fabulosa capacidade de adaptação da UE”. A hipótese “que mais nos interessa no caso da Catalunha seria de que forma a Europa se apressará para resolver a permanência europeia da Escócia se esta decidir ficar”.

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Salmond: é um erro pensar que a Escócia conseguiu fácil

Salmond não quis comentar a aposta do governo catalão de uma declaração unilateral de independência se não conseguir negociar um referendo, mas apelou para o consenso e negou que para a Escócia tenha sido mais fácil com Londres do que para Barcelona com Madri.

O político escocês disse, na sequência das declarações de Puigdemont, que para negociar um referendo à escocesa, “faltaria que a Espanha fosse o Reino Unido”.

“As pessoas não devem pensar que foi fácil para a Escócia e é difícil para a Catalunha. Também foi difícil para a Escócia. Mas em algum momento, porque o consenso é o caminho certo, a democracia prevaleceu”, afirmou Salmond, que negociou com o primeiro-ministro britânico, David Cameron, a organização do referendo.

“Em algum ponto se chega a um acordo, e em algum ponto a oportunidade aparece”, assegurou o escocês.

Puigdemont acusou o governo central madrilense, presidido pelo conservador Mariano Rajoy, de não se sentar para negociar, e advertiu que esta posição não acabará com o independentismo na Catalunha, que nas últimas eleições obteve a maioria absoluta de assentos no Parlamento catalão, mas não a metade mais um dos votos.

“Alguém acredita que porque o governo não se senta para negociar, dirá, ‘bom, então vamos para casa’? Isto não vai acontecer”, avisou o catalão.

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