Gilberto Kassab é um dos mais hábeis políticos brasileiros. Depois de comandar a vitoriosa campanha do governador eleito Tarcísio de Freitas, que tem Felício Ramuth de vice e Guilherme Afif Domingos como coordenador da transição, ambos do PSD, o presidente nacional da legenda prepara-se agora para negociar o apoio de seu partido ao governo Lula. Como ex-prefeito de SP por duas vezes, ex-ministro da Ciência, Tecnologia e Comunicações de Dilma e ex-ministro das Cidades de Temer, Kassab é também experimentado gestor e, por isso, deve virar ministro do governo petista. Está cotado para as Comunicações. Ele nega que isso seja toma lá dá cá. “Vamos participar do governo. Será uma parceria.” Detalhes da aliança estão sendo tratados com Gleisi Hoffmann, presidente do PT.

Congresso

Com 42 deputados e 11 senadores, o PSD deve fazer parte da base aliada do PT e sustentar a nova administração no Congresso. Com a perspectiva de Lula ter o apoio do Centrão (270 cadeiras), somados aos outros 122 integrantes dos dez partidos que elegeram o petista, os pessedistas podem ajudar o novo governo a ter maioria na Câmara com folga.

Pacheco

Kassab não quer apenas cargos e participação no novo governo. Ele deseja a garantia de que Lula ajudará a manter Rodrigo Pacheco na presidência do Senado. Sabe que outras forças no Salão Azul, como PL e MDB, podem vir a pleitear o posto, mas entende que o líder petista terá força política suficiente para mediar a recondução de Pacheco.

Embaixador em Portugal

Divulgação

Ricardo Lewandowski não esconde de ninguém que é um dos maiores amigos do presidente Lula. Os dois são de São Bernardo do Campo, de onde vem um relacionamento de longa data. Como ele se aposenta do STF em julho, alguém lhe perguntou se gostaria de ocupar algum ministério no novo governo. Lewandowski não se fez de rogado. Quer ser embaixador, de preferência em Portugal. Vai ser bonita a festa, pá!

Retrato falado

“Não seremos oposição ao governo” (Crédito:Ruy Baron)

O deputado Luciano Bivar, presidente do União Brasil, disse em entrevista ao “Globo” que seu partido não pretende ser oposição ao governo Lula, admitindo até mesmo integrar a base de apoio no Congresso. Com seus 59 deputados, o UB explica que a aliança dependerá do que o governo pode oferecer em troca, mas faz questão de lembrar que a sigla pode ter candidato à presidência da Câmara para enfrentar a tentativa de recondução de Arthur Lira ao cargo. Pode ser ele mesmo.

A gastança começou

O governo Lula nem começou, mas a largada para aumentar os gastos da nova gestão já foi dada. A equipe do governo petista, com Geraldo Alckmin à frente, está acertando com o Centrão de Lira – que manda no Congresso -,
a edição da PEC da Transição para ser aprovada até meados de dezembro e que autorize o futuro governo a gastar mais R$ 200 bilhões, fora do teto, para cumprir promessas feitas durante a campanha. Entre outras coisas, o dinheiro garantirá o pagamento de R$ 600 do Auxílio Brasil (voltará a ser Bolsa Família), além do adicional de R$ 150 para cada filho na escola. Em troca, o Centrão pede que o PT não acabe com o orçamento secreto já em 2023.

Salário mínimo

A PEC da Transição pagará também um aumento real do salário mínimo em 2023, que deverá ficar entre 1,3% e 1,4% acima da inflação. Não é muito, mas é o primeiro aumento real dos últimos quatro anos. Bolsonaro se recusou a dar reajustes reais ao mínimo. Nos governos do PT, o aumento real foi de 74%.

Toma lá dá cá

Renan Calheiros, senador pelo MDB-AL (Crédito:Divulgação)

Bolsonaro permanecerá filiado ao PL para atuar como líder da oposição. Atrapalha a aproximação de Lula ao Centrão?
Ele é despreparado, preguiçoso e tem uma deficiência cognitiva conhecida. É muito difícil imaginá-lo na linha de frente da oposição sem a estrutura do Estado que sustentava sua agenda medieval.

Algumas alas do MDB são bolsonaristas. Crê que farão oposição ao governo?
Acho que todos irão colaborar para um distensionamento a fim de recuperarmos a credibilidade do Congresso.

O MDB deve abrir mão da disputa pelo Senado?
Eu, que estive na linha de frente de enfrentamento desse projeto fascista derrotado, defendo
o apoio programático para votarmos reformas que robusteçam a democracia.

Adesão a Lula

O Republicanos, da base de Bolsonaro, deve passar por uma transição para se alinhar a Lula. A tendência é que a sigla, a princípio, adote uma posição de independência, votando com o governo assuntos econômicos e, aos poucos, vá se aproximando do petista. Entre 2003 e 2011, José Alencar, vice de Lula, era filiado à legenda, que, à época, era PRB.

Douglas Gomes

Com Dilma

A agremiação também compôs a gestão Dilma Rousseff, embora a tenha abandonado no início de 2016, meses antes do impeachment. O presidente do Republicanos, Marcos Pereira, é benquisto na esquerda, que chegou a cogitá-lo para a sucessão de Rodrigo Maia na presidência da Câmara. Ele, porém, acabou embarcando na candidatura de Arthur Lira (PP).

Amigos para sempre

Marlene Bergamo

Aliado de Lula desde a época do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Paulo Okamotto é cotado para assumir o Ministério das Micro e Pequenas Empresas, que deve ser criado. Ele é um dos fundadores do Instituto Lula e foi “caixa” do petista enquanto ele esteve preso, pagando todas as suas contas, mas tem experiência no assunto: entre 2003 e 2010 foi presidente do Sebrae.

Rápidas

* Enquanto Bolsonaro se organiza para atuar na oposição a Lula, com patrocínio do PL, que lhe dará casa, comida e roupa lavada, Walter Braga Netto, seu vice na fracassada campanha, ainda não sabe se seguirá o capitão: amigos acham que se manterá distante da política.

* Os petistas da transição acusam Bolsonaro de mais um golpe contra o futuro governo. A Petrobras pagará R$ 43,7 bilhões em dividendos aos acionistas, Os petistas querem que o dinheiro seja reinvestido na estatal.

* Alexandre de Moraes, presidente do TSE, diz que a Corte será dura na punição aos bolsonaristas que usaram de violência para contestar a vitória de Lula. “Esses movimentos criminosos serão responsabilizados sob a pena da lei.”

* Simone Tebet, que estava cotada para o Ministério da Agricultura, tem feito chegar a Lula que prefere o Ministério da Cidadania, que tem sob seu guarda-chuva o programa de casas populares, entre outras coisas mais.