Eduardo Paes cresce na reta final da campanha e aposta na virada (Crédito:José Lucena/Futura Press)

Depois de o ex-juiz Wilson Witzel (PSC) surpreender no primeiro turno da eleição ao governo do Estado do Rio de Janeiro, desbancando nomes conhecidos da política fluminense, como o senador Romário (Podemos), a candidatura apresenta nítidos sinais de desgaste na reta final. Na terça-feira 23, o Ibope divulgou levantamento que apontou uma queda de quatro pontos percentuais nas intenções de votos. Em contrapartida, seu adversário na disputa, o ex-prefeito do Rio Eduardo Paes (DEM) aproximou-se na corrida ao Palácio da Guanabara. A pontuação de Witzel migrou para Paes, que subiu de 40% para 44%. Numa curva descendente, Witzel caiu de 60% para 56%. Não por acaso. Somente agora o eleitor fluminense começou a ter conhecimento de como o candidato do PSC é controverso, tanto por sua atuação como juiz, pelas denúncias que pesam contra ele, como pelas propostas questionáveis que ele tem colecionado ao longo da campanha. Na lista das histórias mal esclarecidas, estão as relações perigosas com o ex-governador Sérgio Cabral, hoje preso, com o empresário Mário Peixoto, considerado o rei dos contratos emergenciais e sem licitação do Rio, e a estreita amizade com o advogado Luiz Carlos Cavalcanti Azenha, condenado por esconder Antônio Bonfim Lopes, o Nem da Rocinha, no porta-malas de seu carro e oferecer suborno a policiais, sete anos atrás.

Ao longo da campanha, Witzel foi trocando o perfil técnico que se espera de um ex-juiz por uma versão mal acabada em termos de conservadorismo do candidato do PSL à Presidência, Jair Bolsonaro. Ele pagou, inclusive, R$ 220 mil de anúncios no Google para associar seu nome ao do presidenciável do PSL. Na quarta-feira 24, quando se digitava somente o nome “Bolsonaro” no Google, aparecia na tela o nome de Wilson Witzel. Na construção do perfil “linha-dura”, Witzel chegou ao cúmulo de ameaçar de prisão seu próprio adversário na disputa. O ex-juiz afirma que irá fazer em seu governo uma investigação rigorosa sobre lavagem de dinheiro e corrupção, mas poucos acreditam na promessa, sobretudo por suas ligações estreitas com o governador-símbolo da corrupção fluminense, o ex-governador Cabral.

Semanas antes de Sérgio Cabral ser preso, Witzel foi até ele
pedir apoio à sua candidatura ao governo do Rio de Janeiro

Amizades nada edificantes

Em outubro de 2016, semanas antes de Cabral ser preso pela Lava Jato, Witzel foi ao escritório do ex-governador no Leblon acompanhado do então presidente da Associação de Juízes Federais do Rio de Janeiro e Espírito Santo, Fabricio Fernandes. Reuniu-se com Cabral e, de acordo com relatos do próprio ex-governador, Witzel foi a ele pedir seu apoio para uma futura candidatura ao governo nas eleições de 2018. O candidato confirma o encontro. Àquela altura, Cabral já estava enredado em duas delações (do empreiteiro Andrade Gutierrez e do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa). Não foi a única vez que ele esteve com Cabral. Um dos encontros foi intermediado pelo agente fazendário Ary Ferreira da Costa Filho, conhecido como Aryzinho, condenado em três processos e que já esteve preso e foi apontado como o operador de Cabral. A amizade do ex-juiz com Aryzinho permitiu-lhe trânsito livre nos camarotes do Carnaval carioca. Ary confirmou, por intermédio do seu advogado, Alessandro Carracena, que agilizou a audiência pedida por Witzel.

“Conhece o Peixoto?”

Se o candidato do PSC ainda gagueja para explicar a intimidade com Aryzinho e Cabral, faltam-lhe palavras para esclarecer a relação com outra figura de potencial explosivo. Trata-se de Mário Peixoto. Com o PMDB no poder, a principal empresa de Peixoto amealhou contratos com o estado que somam mais de R$ 1 bilhão de reais. A maioria sem licitação. Peixoto comanda empresas de prestação de todos os tipos de serviços – de auxílio administrativo e operacional nas UPAs, passando por limpeza, vigilância e até auditoria contábil. Segundo o advogado Jonas Lopes de Carvalho Neto, filho do ex-presidente do Tribunal de Contas do Estado (TCE-RJ), Peixoto era responsável pelo pagamento de um “mensalão” de 200 mil reais aos conselheiros responsáveis por aprovar as contas das Organizações Sociais, que prestavam serviços. No debate da Globo, ocorrido nas vésperas do 1º turno da eleição do Rio, uma cena passou despercebida. O senador Romário perguntou ao ex-juiz Wilson Witzel se ele conhecia Mário Peixoto. “Você conhece o Mário Peixoto, que lhe ajudou a fazer seu plano de governo?”, perguntou o baixinho. De bate pronto Witzel pediu direito de resposta. Romário rebateu: “Eu mal perguntei e já tá pedindo direito de resposta, pô?”.

Embora de vocifere que não tem medo de bandido e que vai combater a criminalidade no Estado, Witzel pediu transferência da Vara de Execuções Criminais quando foi ameaçado de morte. Na ocasião, explicou: “Eles conseguiram me intimidar e isso me fere profundamente. Tive de trocar de área para preservar minha vida”. Porém, para acossar o concorrente Eduardo Paes subiu o tom e, desta vez, foi ele quem tentou a via da intimidação, ao ameaçar mandar prendê-lo caso continuasse disseminando supostas “fake news” a seu respeito. Com o passado repleto de contradições e relações perigosas, Witzel parece ter esquecido de um detalhe: se juiz não pode tudo, quanto mais um ex-juiz. Ademais, a disputa acontece dentro da mais perfeita normalidade democrática. Bravatas não combinam um ex-magistrado, que deveria conhecer os limites da legalidade.

Geraldo Bubniak/AGB; Divulgação