SÃO PAULO, 25 MAR (ANSA) – Durante uma sessão pública realizada com o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, nesta quarta-feira (24) no Senado, diversos políticos pediram que o chanceler renunciasse ao cargo por conta de sua fraca atuação internacional para conseguir vacinas anti-Covid.

A audiência tinha como foco debater a atuação do Itamaraty na compra dos imunizantes no cenário internacional. O Brasil enfrentou uma série de problemas na importação do IFA para a produção das vacinas CoronaVac e Covidshield, da Sinovac Biotech e da Universidade de Oxford/AstraZeneca, respectivamente. O material fundamental para a produção dos imunizantes pelo Instituto Butantan e pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) vinha da China.

Além disso, houve atrasos no envio de doses prontas da China e da Índia, além do governo brasileiro não ter se movimentado para pedir aos Estados Unidos o envio de doses da vacina de Oxford/AstraZeneca excedentes no país – o primeiro lote deve ir para o México e Canadá.

Senadores de diversas vertentes políticas, como PSDB, Rede, PSOL, Cidadania, PP e PT criticaram Araújo de maneira veemente.

“A cara do Brasil é de um país que está colocando o planeta em risco. Por favor, chanceler, põe a cabeça no travesseiro e pense com consciência se não valeria a pena o senhor abrir mão desse cargo. Não é pessoal. É o cargo. O senhor não foi bom para o Brasil. Eu tenho certeza que o Brasil é melhor sem o senhor.

Pede para sair e durma com a consciência tranquila”, disse a senadora Mara Gabrili (PSDB/SP).

Já Simone Tebet (MDB/MS) afirmou que a reunião era “sem sentido” porque todos estavam “diante de um ministro que não reconhece qualquer falha”.

“Vossa excelência é unanimidade no Senado Federal, coisa que eu nunca vi: unanimidade de rejeição e de incompetência. Tem que realmente sair porque é um elemento, diante de uma pandemia, que atrapalha o processo até pelas próprias atitudes que tomou até hoje”, ressaltou lembrando das falas de Araújo sobre a China e o “comunavírus”, atribuindo a origem do coronavírus Sars-CoV-2 aos chineses – fato que até hoje não foi comprovado.

Randolfe Rodrigues (Rede/AP) seguiu a mesma linha de Tebet e atacou a postura negacionista e de ataque aos dois principais aliados econômicos do Brasil. O ministro, assim como todo o governo de Jair Bolsonaro, era muito ligado a Donald Trump nos EUA, mas demorou muito para reconhecer a vitória de Joe Biden no pleito de novembro, sendo um dos últimos países do mundo a adotar o gesto diplomático.

“Nós estamos precisando agora das vacinas dos Estados Unidos e dos insumos para vacinas feitos pelos chineses. Vocês não pediram desculpas à China pelas ofensas que foram proferidas. Eu acredito que, a esta altura, o senhor não teria condições de ser ministro, com todo o respeito, nem no Afeganistão, nem na República Centro-Africana, nem no Reino de Tonga, que, lamentavelmente, são alguns dos poucos países que recebem agora livremente brasileiros sem restrições. Faça um favor em homenagem aos 300 mil brasileiros que perderam a vida: peça para sair”, ressaltou.

O chanceler rebateu os comentários dizendo que “dorme tranquilo” e que muito do que se falou ali foi retórica e “não objetivo”.

“Estou perfeitamente qualificado, capacitado e entusiasmado em trabalhar, e tenho a capacidade, juntamente com a equipe do Ministério das Relações Exteriores, de adquirir todas as vacinas que serão determinadas no nosso plano de vacinação. O Itamaraty não é o Ministério da Saúde”, afirmou.

Araújo sustentou que tudo está sendo feito e que “não há problemas” com nenhum governo internacional. “Essa é a minha convicção. Contarei aos meus netos que fiz parte de projeto de transformação do Brasil. Espero poder contar que será um projeto bem-sucedido, que livrou o Brasil da corrupção, do atraso, da indignidade, e da falta de condições para os brasileiros”, pontuou ainda.

No entanto, há semanas a mídia brasileira repercute que, no caso da China, as negociações nunca são feitas com o chanceler por conta das ofensas postadas nos últimos anos. Segundo fontes do governo, os chineses negociam com outros membros do governo e até mesmo do Legislativo para evitar o chanceler.

Atualmente, o Brasil só utiliza as vacinas CoronaVac e Covidshield. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou também o imunizante da Pfizer/BioNTech, mas como o governo demorou para assinar o contrato, ainda não há doses no país.

Conforme dados do governo federal, cerca de 18 milhões de doses foram aplicadas no país – em um ritmo bastante lento. (ANSA).