Muita gente reclama que Lula não cumpriu com a paridade de homens e mulheres no ministério (dos 37 ministros, apenas 11 são mulheres), mas se esquece de ver o que acontecerá com a bancada petista do Senado. Pelo menos três senadores eleitos da base aliada do novo governo assumiram ministérios: Flávio Dino (Justiça), Wellington Dias (Desenvolvimento Social) e Camilo Santana (Educação). E para seus lugares no Senado, assumirão seus primeiros suplentes que, por coincidência, são mulheres. No lugar de Dino, assumirá Ana Paula Lobato. O posto de Wellington será ocupado por Jussara Alves de Souza. E na vaga de Camilo, estará Augusta Brito. Ela foi prefeita de Graça (CE), de 2004 a 2008. Eleita deputada estadual em 2014, foi líder do PT na Assembleia cearense.

Jovem

Embora não tenham experiência com o Congresso, elas devem chamar a atenção em Brasília. Uma delas, Ana Paula Lobato, suplente de Dino, com 38 anos, será a mais jovem dos 81 senadores. Ela vem de uma família de políticos maranhenses. É casada com o deputado Othelino Neto, presidente da Assembleia do Maranhão, e é vice-prefeita de Pinheiro (MA).

Família

A mais experiente de todas é Jussara, suplente de Wellington. Com 62 anos, ela é esposa do deputado federal Júlio César (PSD-PI) e mãe do deputado estadual Georgiano Neto (MDB-PI), ambos os mais votados no Piauí em 2022. A nova senadora foi eleita vice-prefeita de Fronteiras (PI) em 2011 e foi a primeira vereadora da cidade de 1989 a 1992.

Confusão na Agricultura

Geraldo Magela

Outra mulher que assumirá o Senado em razão do titular tornar-se ministro de Lula será Margareth Buzetti, 62. Ela é a primeira suplente do senador Carlos Fávaro (PSD-MT), que assumiu o Ministério da Agricultura. Ocorre que ela é do PP e bolsonarista assumida. Para Lula não perder uma cadeira no Senado para a oposição, Kassab coordenou a filiação de Margareth ao PSD e o PT ganhou uma nova aliada.

Retrato falado

“Entre nossas tarefas mais urgentes, vamos pedir a retirada dos invasores das terras dos Ianomâmis e do Vale do Javari” (Crédito:Pedro Ladeira)

Sônia Guajajara, titular do inédito Ministério dos Povos Indígenas, disse que terá 13 prioridades a apresentar a Lula logo no início do governo entre elas estão o despejo dos invasores das terras dos Ianomâmis e do Vale do Javari, local onde morreram o indigenista Bruno Pereira e o jornalista Dom Phillips. Ela diz que Lula lhe prometeu retomar a demarcação de terras indígenas
e garantiu que a Funai ficará sob sua jurisdição. Depois de 500 anos, os indígenas terão vez.

Herança maldita

O Brasil acordou no dia 2 com um aumento de R$ 0,70 no preço da gasolina. Foi o primeiro reflexo da herança maldita deixada por Bolsonaro para todos os segmentos da economia, em que pese o fato de o governo petista ter prorrogado a desoneração do preço dos derivados do petróleo por mais dois meses, o que pode manter os preços em baixa por 60 dias. Sabemos que o futuro presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, disse que reduzirá o preço dos combustíveis, mas há a expectativa de aumentos também na luz elétrica, solar, etc. Ou seja, os preços administrados pelo governo deverão ter altas durante este ano, o que vai pressionar fortemente a inflação.

Índices em alta

Dessa forma, a tendência é que a inflação oficial de 2023 fique bem acima da meta do BC, de 3,25%, com tolerância de 1,5 ponto percentual para cima (4,75%) ou para baixo (1,75%). A previsão do Boletim Focus, feita pelo BC junto ao mercado, é de que a inflação seja de 5,23%. Ou seja, quase o dobro da meta.

A fúria de Bivar

Luciano Bivar, presidente do União Brasil, anda furioso da vida. Lula nomeou três ministros na conta do seu partido (Waldez Góes, do PDT, para Integração; Juscelino Filho para as Comunicações; e Daniela do Waguinho para o Turismo). Bivar diz que nenhum deles teve apoio da sua legenda e que o partido ficará “independente”, ou nem lá, nem cá.

Pedro Ladeira

A esperteza de Davi

O espertalhão do negócio foi o senador Davi Alcolumbre, que bancou o nome de Góes, prometendo que depois ele passaria para o União Brasil. Mas o fato é que o ex-governador do Amapá não quer mudar de partido. Com isso, os votos dos 59 deputados e dos 10 senadores da sigla ficam indefinidos. Lula conta com eles e vai ter que renegociar com Bivar.

Gato e rato

Ricardo Stuckert

Haddad foi nomeado todo poderoso ministro da Fazenda para ser o novo czar da Economia. Lula lá determinou que esquecesse as privatizações. Já Simone Tebet, do Planejamento, tem ideias de privatizar até a Petrobras. Será um relacionamento de gato e rato como foi no governo de FHC entre Serra (Planejamento) e Malan (Fazenda). Trombavam o tempo todo. Será diferente agora?

Toma lá dá cá

Alfredo Gaspar, deputado do União Brasil-AL (Crédito:Divulgação)

O União Brasil ganhou três ministérios. Como a bancada se portará?
Posso falar por mim. O PT pode dar todos os ministérios ao União Brasil, mas ficarei independente. Em uma reunião entre Bivar e Lula, firmamos o compromisso de que cada deputado teria preservada sua autonomia.

Lula adotou um tom duro na posse?
Se Lula quiser pacificar o País, terá de trabalhar no combate à corrupção, algo que não foi abordado; atuar para que estatais não sejam ocupadas por ocasião; e dar sinais mais claros sobre a Economia.

Bolsonaro ainda tem condições de liderar a direita?
A direita é maior que Bolsonaro. Se ele quiser liderar um projeto de oposição, precisa estar no País. Não há vácuo no poder por muito tempo.

Rápidas

* O novo presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, estava apreensivo, ameaçado de ficar desempregado. Era suplente de senador desde que Fátima Bezerra se elegeu governadora do Rio Grande do Norte. Com o fim do mandato, Lula lhe arrumou o melhor emprego do mercado.

* Nos bastidores do PT há um clima de insatisfação entre os assessores que carregaram o piano, mas na hora de uma vaga no Ministério ficaram de fora. Entre eles estão Marco Aurélio de Carvalho, Rui Falcão e Edinho Silva.

* Marcelo Freixo acabou ganhando a presidência da Embratur como prêmio de consolação. Era cotado para o Turismo. Pior aconteceu com Pedro Paulo, que também disputava o Turismo e ficou a ver navios. Eduardo Paes não gostou.

* A nova presidente da CEF, Rita Serrano, foi uma das poucas funcionárias do alto escalão a enfrentar o ex-presidente assediador de mulheres Pedro Guimarães. Foi premiada por Lula por sua resistência ao bolsonarismo.