O governo italiano ganhou nesta terça-feira (10) a moção de confiança no Senado, último requisito para que o novo Executivo, pró-europeu e liderado por Giuseppe Conte, comece a trabalhar.

A coalizão entre o Movimento 5 Estrelas (M5E, antissistema) e o Partido Democrata (PD, esquerda), dirigida pelo primeiro-ministro Giuseppe Conte, obteve 169 votos a favor e 133 contra, e cinco abstenções.

Antes da votação, houve um debate acalorado entre o ex-ministro italiano do Interior Matteo Salvini, líder da ultradireita Liga, e Conte.

Em sua intervenção, Salvini atacou Conte duramente e o acusou de “estar pregado em sua cadeira” de chefe de governo, “como uma velha múmia da primeira república”, aquela em que a Democracia Cristã reinava no pós-guerra.

“São a minoria no país (…) Podem fugir durante alguns meses, mas não até o infinito”, prosseguiu, lembrando as eleições regionais que serão celebradas dentro de alguns meses na Itália.

Conte foi reconduzido na semana passada em suas funções à liderança de uma maioria que reúne o M5E com o PD e compôs um governo pró-europeu de tendência esquerdista.

Assine nossa newsletter:

Inscreva-se nas nossas newsletters e receba as principais notícias do dia em seu e-mail

O ex-ministro do Interior não suporta que o primeiro-ministro tenha se mantido em seu posto depois que o próprio Salvini rompeu com a coalizão anterior entre o M5E e a Liga, em 8 de agosto ao pedir eleições antecipadas. Nesse momento, a Liga tinha entre 36 e 38% da intenção de voto, pouco mais do que nas pesquisas atuais, que lhe dão entre 31 e 32%.

Conte, um advogado de tom moderado, foi eleito em junho de 2018 pelo M5E, um movimento que surgiu como rechaço à velha classe política, e se tornou o maior partido no Parlamento italiano desde as legislativas de 2018.

Durante o debate, entre aplausos de seus partidários, Salvini alternou ataques pessoais contra Conte com críticas às políticas que propõe.

“Se alguém não quiser ir às eleições, significa que tem má consciência. Para vocês, o importante é frear (a ascensão da) Liga, para nós é relançar o país”, disse Salvini.

– “Traidor, traidor” –

Sem citar nomes, Conte denunciou em sua réplica a “arrogância de quem reivindica plenos poderes”, como o ditador Benito Mussolini. Quando rompeu a aliança com o M5E, Salvini exigiu voltar às urnas para conseguir “plenos poderes” para dirigir a Itália.

Botar culpa dos problemas nos outros, como sair do governo sem ter conseguido eleições, “é se eximir de responsabilidade para a vida”, acrescentou Conte.

Os senadores italianos debateram durante todo o dia o programa do novo governo de Conte e terminaram o dia com um voto de confiança, último requisito para o aval do novo executivo.

Na segunda-feira, os deputados deram com folgada maioria seu voto de confiança ao segundo governo de Conte (343 a favor e 263 contra).

A situação era um pouco mais complicada no Senado, onde o governo tem uma maioria mais apertada, mas, para os observadores, não havia dúvidas de que conseguiria a aprovação.


No Senado, Conte foi acolhido entre gritos de “dignidade, dignidade” e “traidor, traidor”, procedentes da bancada da Liga e dos Irmãos da Itália (FDI), um pequeno partido de extrema-direita próximo à Liga.

Em seu discurso de segunda-feira diante dos deputados, Conte prometeu que impulsionará uma “nova era de reformas”, para relançar a economia, a natalidade, as infraestruturas e a inovação. Também pediu à Europa mais tolerância em matéria de orçamento e solidariedade, para administrar fluxos migratórios.


Siga a IstoÉ no Google News e receba alertas sobre as principais notícias