Uma Comissão do Senado americano divulgou nesta quarta-feira (16) milhares de documentos de sua investigação sobre uma reunião ocorrida na Trump Tower entre Donald Trump Jr e russos que haviam prometido material incriminador sobre Hillary Clinton.

Em um depoimento revelado pelo Comitê Judicial do Senado, Trump Jr informou não ter falado antecipadamente a seu pai sobre a reunião com uma advogada relacionada ao Kremlin cinco meses antes da eleição.

A reunião de 9 de junho de 2016 com Natalia Veselnitskaya também contou com a presença do então chefe de campanha do republicano, Paul Manafort, e do genro de Trump, Jared Kushner.

O encontro gerou especulações sobre um possível conluio entre a campanha de Trump e a Rússia. O presidente negou diversas vezes que sua campanha tenha confabulado com a Rússia para se eleger e tem denunciado a investigação de Robert Mueller como uma “caça às bruxas”.

A reunião da Trump Tower foi organizada por um promotor musical, Rob Goldstone, que contatou Trump Jr oferecendo “documentos oficiais e informação que incriminaria Hillary (…) e seria muito útil para seu pai”. Trump Jr respondeu “Adoraria”.

Mas Trump Jr disse depois que não havia “informação significativa” e que a reunião se centrou principalmente no tema das adoções de crianças russas.

Em seu testemunho, disse que não sabia se o seu pai participou diretamente nas explicações sobre a reunião, que supostamente continham discrepâncias. Contudo, reconheceu que o presidente “pôde ter” influenciado nas mensagens conhecidas através da então diretora de comunicação da Casa Branca, Hope Hicks.

Ao ser perguntado se os comentários de Trump através de Hicks foram incorporados à explicação final da reunião, Trump Jr disse: “Acho que alguns podem ter sido”.

– 2.600 páginas –

Entre as 2.600 páginas de documentos publicados nesta quarta-feira se encontra a transcrição completa do depoimento de Trump Jr.

Em uma declaração à imprensa americana nesta quarta-feira, ele assegurou que apreciava “a oportunidade de ter ajudado o Comitê Judicial em sua investigação”.

Manafort, que foi acusado de vários delitos não relacionados com a campanha como resultado da investigação de Mueller, não foi interrogado.

O presidente da Comissão Judicial do Senado, Chuck Grassley, disse que publicava os documentos para que “os americanos agora possam revisar esta informação” e “tirar suas próprias conclusões”.

Os democratas do Comitê disseram que a reunião de 2016 “confirma que a campanha de Trump estava disposta a aceitar a ajuda da Rússia”.

“Seus esforços para ocultar a reunião e seu verdadeiro propósito são consistentes com um padrão maior de declarações falsas sobre a relação da campanha de Trump com a Rússia”, segundo um comunicado.

“A Comissão encontrou evidências de múltiplos contatos entre a campanha de Trump e funcionários do governo russo, ou seus intermediários, incluindo ofertas de ajuda e propostas de Vladimir Putin, o que justifica uma maior investigação”, acrescentaram.

O Conselheiro Especial da equipe de Robert Mueller disse à Casa Branca que, seja qual for a evidência que apareça na investigação russa, o presidente Donald Trump não poderá ser indiciado, informou o o advogado de Trump, Rudy Giuliani.

Giuliani disse à CNN e à Fox News nesta quarta-feira que a equipe de Mueller aceitou uma interpretação legal de longa data, mas nunca testada pelo Departamento de Justiça, de que um presidente em exercício está imune à acusação.

“Tudo o que eles fazem é escrever um relatório”, disse Giuliani à CNN. “Eles não podem indiciar. Pelo menos eles reconheceram isso para nós depois de algumas batalhas”.

Peter Carr, porta-voz de Mueller, recusou-se a comentar as declarações de Giuliani.

– Moscou tentou influenciar –

Por outro lado, a Comissão de Inteligência do Senado anunciou nesta quarta-feira ter concluído sua revisão sobre a influência russa nas eleições e concluiu que concorda com a avaliação da comunidade de Inteligência americana de que Moscou tentou influenciar o pleito a favor de Trump.

O presidente do painel, o senador Richard Burr, disse em um comunicado que depois de 14 meses de revisão, não vê “nenhuma razão para disputar as conclusões” por parte da comunidade de inteligência.

Segundo o principal democrata na comissão, o senador Mark Warner, “o esforço russo foi extenso, sofisticado e ordenado pelo próprio presidente Putin com o propósito de ajudar Donald Trump e prejudicar Hillary Clinton”.

A conclusão bipartidarista contrastou com a avaliação dos republicanos da Comissão de Inteligência da Câmara de Representantes, que acusaram as agências de inteligência de não usar os métodos de espionagem apropriados quando essas agências determinaram que a Rússia respaldasse a candidatura de Trump.