Senado brasileiro investiga gestão de Bolsonaro durante pandemia

O Senado iniciou uma comissão nesta terça-feira (27) para analisar o desempenho do governo durante a pandemia do coronavírus, uma investigação explosiva que pode impactar a tentativa de reeleição do presidente Jair Bolsonaro em 2022.

O presidente desafiou continuamente as recomendações de saúde para controlar a propagação do vírus, criticou medidas de isolamento social, desconsiderou o uso de máscaras, questionou vacinas e promoveu medicamentos sem eficácia comprovada contra a doença, como a hidroxicloroquina.

Enquanto isso, o Brasil enfrenta problemas na obtenção de vacinas para conseguir imunizar seus 212 milhões de habitantes, e se aproxima dos 400 mil mortos pela doença, balanço superado apenas pelos Estados Unidos.

Essa Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) analisará se houve negligência ou atos de corrupção durante a gestão da pandemia, incluindo a crise de suprimento de oxigênio que em janeiro causou a morte por asfixia de dezenas de pessoas em Manaus, capital do Amazonas.

“Eu acho que vai criar muito problema para o presidente”, disse à AFP o analista Andre Rehbein Sathler, doutor em Filosofia e pesquisador-associado da Unidade de Inteligência do Congresso em Foco.

“Não é só omissão, é ação mesmo do governo. O que o governo fez em relação à pandemia foi público e notório. Não precisaria de uma investigação. Está tudo escancarado”, acrescentou.

“O governo Executivo foi ao Supremo para tentar barrar medidas que os governadores tomaram de distanciamento social, o governo não comprou as vacinas, minimizou a pandemia…. É só listar e denunciar o presidente”, afirmou Sathler.

A CPI, que tem mandato renovável por 90 dias, foi instalada por despacho do Supremo Tribunal Federal (STF).

Esse tipo de comissão é espaço para ocorrência de revelações devastadoras e levar a diante processos de impeachment, como aconteceu com o presidente Fernando Collor, no início dos anos 1990.

Porém, também pode acabar resultando em nada, dependendo do momento político.

Bolsonaro aliou-se este ano aos partidos de centro-direita conhecidos como “Centrão”, na esperança de se proteger de um eventual “impeachment”.

Mas a aliança mostra sinais de fraqueza e as pesquisas mostram que ele pode ser derrotada nas eleições de outubro de 2022.

Alguns especialistas preveem que o governo tentará culpar o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello, general do Exército, demitido por Bolsonaro em março, pelo desastre na saúde.

Mas, acrescentam, Pazuello poderá não entrar no jogo e arrastar outras pessoas para a sua ruína.

– Relatório “cirúrgico” –

Os 11 membros da comissão elegeram para presidi-la o centrista Omar Aziz, cujo nome foi defendido pelo Executivo, e o opositor Randolfe Rodrigues como vice-presidente.

No entanto, em um revés para o governo, Aziz escolheu o veterano senador de centro, Renan Calheiros, para assumir como relator.

Segundo fontes, Calheiros disse aos aliados que quer escrever um relatório “cirúrgico” final, documentando os erros do governo.

Sua nomeação viu-se complicada na noite de segunda-feira, quando uma ordem judicial tentou impedi-la, argumentando que o veterano senador está sendo investigado por corrupção e lavagem de dinheiro.

Mas essa decisão de última hora, que pode ser vista como um sinal de que dias tumultuados virão, foi anulada por outra instância judicial logo após o início da função da CPI.