O primeiro-ministro britânico, Rishi Sunak, enfrenta uma semana de alto risco para seu mandato, com seu depoimento nesta segunda-feira (11) à comissão de investigação sobre a covid e a ameaça de rebelião em seu partido por seu projeto de enviar imigrantes irregulares a Ruanda.

Sunak, que foi ministro de Finanças durante a pandemia, foi criticado por tomar decisões com o objetivo de salvar a economia do país, que teriam colaborado para a propagação do vírus, segundo seus críticos.

“As vidas humanas são mais importantes que o dinheiro”, escutou Sunak de um manifestante ao chegar nesta segunda-feira a Dorland House, o edifício do governo de Londres, onde prestaria depoimento.

Poucos dias após Boris Johnson, primeiro-ministro durante a pandemia, pedir perdão às vítimas, admitindo que deveria ter se dado conta da gravidade da situação “muito antes”, Sunak relativizou seu papel na crise sanitária.

– “Repercussão econômica” –

Após começar seu depoimento afirmando que “sente profundamente” as perdas humanas, o ex-ministro das Finanças defendeu sua atuação.

“Considerava que meu papel à frente da Economia consistia em garantir que o primeiro-ministro tivesse a melhor análise relacionada ao impacto financeiro e das consequências de algumas decisões que tinha que tomar”, disse Sunak.

O agora primeiro-ministro precisou responder sobre sua responsabilidade nas medidas tomadas em agosto de 2020 para incentivar a população à frequentar restaurantes.

Umas dessas iniciativas, chamada “Eat out to help out” (comer fora para ajudar), foi criticada por cientistas que assessoravam o governo.

Especialistas afirmaram à comissão de investigação que esta medida ajudou a tornar mais ampla a segunda onda da epidemia no final de 2020.

Ainda nesta segunda, Sunak rechaçou que seu plano “Eat Out to Help Out” provocou mais infecções, dizendo que outros países tinham números similares e que os especialistas disseram que outra onda era inevitável.

O dirigente conservador também afirmou que os assessores científicos não haviam se mostrado preocupados naquele momento e que o plano havia assegurado milhões de postos de trabalho no setor hoteleiro.

Umas das cientistas, Angela McLean, apelidou Sunak de “Doctor Death” (Doutor Morte) em uma conversa por WhatsApp com um colega.

A pandemia deixou mais de 230.000 mortos no Reino Unido e a comissão investiga a gestão política do governo que estava à frente do país na época.

Os trabalhos da comissão independente de investigação podem durar até 2026.

A declaração de Sunak pela pandemia ocorre enquanto sua autoridade é questionada dentro do Partido Conservador.

A ala mais rígida dos “tories” considera brando demais seu novo plano para enviar imigrantes irregulares a Ruanda.

– Rebelião conservadora –

Diferentes alas de seu partido se reunirão nesta segunda-feira para decidir se seus deputados apoiarão ou não o plano que será votado, a nova versão de um projeto lançado por Boris Johnson e bloqueado pelos tribunais.

O Tribunal Supremo declarou o plano ilegal em novembro, expressando sua preocupação pela segurança dos imigrantes deportados.

O novo projeto de Sunak obrigaria os juízes a tratar Ruanda como um local seguro e propõe dar aos ministros de seu governo poderes para ignorar partes de leis de direitos humanos.

Mas os membros da ala mais radical dos conservadores, liderados pela ex-ministra de Interior, Suella Braverman, podem votar contra.

Para estes deputados, o Reino Unido deveria retirar-se da Convenção Europeia de Direitos Humanos e outros tratados, para evitar futuros recursos legais.

A rebelião de 28 deputados conservadores pode provocar a rejeição ao projeto.

Robert Jenrick, ministro para a Imigração, que deveria apresentar o texto ao Parlamento, apresentou sua demissão na quarta-feira, após considerar que o plano não iria “longe o suficiente”.

A luta contra a imigração ilegal se tornou um trunfo importante para os conservadores, que tentam reverter as pesquisas de intenção de voto que claramente os colocam como perdedores contra os trabalhistas nas eleições do ano que vem.

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