O presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, enfrenta uma semana decisiva, desestabilizado por um escândalo que envolve quantias de dinheiro misteriosas encontradas em uma de suas propriedades rurais e que pode provocar, na terça-feira (13), o início de um processo de impeachment.

O chefe de Estado, de 70 anos, que também é um empresário rico, é acusado de tentativa de ocultar da polícia e da Receita um roubo cometido em 2020 em uma de suas propriedades, onde ele cria gado considerado raro, uma de suas paixões.

Os ladrões levaram mais de meio milhão de dólares que encontraram escondidos em um sofá.

Uma denúncia apresentada em junho, que desencadeou o escândalo, afirma que o presidente teria aceitado subornos. Mas até o momento não foi apresentada nenhuma acusação contra ele e a investigação policial continua.

O Parlamento deve decidir na terça se inicia um processo de destituição.

A decisão será tomada apenas três dias antes de uma reunião do Congresso Nacional Africano (ANC), partido que governa o país, para a definição de seu novo líder e potencial futuro chefe de Estado, caso a formação vença as eleições gerais de 2024.

Ramaphosa é o favorito nas pesquisas para a presidência do ANC, muito à frente do ex-ministro da Saúde, Zweli Mkhize, de 66 anos.

O presidente testou sua popularidade no fim de semana, durante uma viagem à Cidade do Cabo, onde foi muito bem recebido e declarou aos jornalistas: “Não há nenhum problema, nenhuma crise, relaxem”.

– Contra-ataque –

Um relatório parlamentar concluiu em novembro que Ramaphosa “pode ter cometido” atos contrários à lei no caso do roubo, o que abriu o caminho para o processo de destituição.

O presidente contra-atacou na semana passada e apresentou um recurso ao principal tribunal do país para anular as conclusões da comissão independente de três juristas, criticada por, segundo Ramaphosa, fazer conjecturas.

O Tribunal Constitucional deve decidir em caráter de urgência.

Os líderes do ANC anunciaram apoio oficial ao chefe de Estado e pediram aos parlamentares que votem contra a abertura do processo de impeachment.

Algumas vozes divergentes na formação criticaram a falta de debate, “mas os parlamentares costumam seguir a linha do partido, o ANC tem as coisas sob controle”, declarou à AFP uma fonte do Congresso Nacional Africano.

O partido tem ampla maioria no Parlamento, com 230 dos 400 deputados, o que torna pouco provável a abertura do processo, que exige a maioria de dois terços dos votos após uma votação por maioria simples.

Ao mesmo tempo, “é possível que o presidente da Assembleia Nacional, aliado político de Ramaphosa, decida adiar todo o processo até o próximo ano”, afirma o cientista político William Gumede.

Isto daria tempo a Ramaphosa para preparar um segundo mandato como presidente, sem a necessidade de administrar os procedimentos relacionados ao escândalo.

O chefe de Estado insiste que é inocente e alega que o dinheiro roubado era procedente da venda de 20 búfalos para um empresário sudanês chamado Hazim Mustafa, que recentemente confirmou à imprensa britânica a transação e o seu valor, o que corrobora, ao menos em parte, a versão do presidente.

Mustafa explicou que comprou o gado no fim de 2019, quando a pandemia de covid estava no início, mas que os animais nunca foram entregues em Dubai, onde mora.

Também afirmou que não percebeu que estava negociando com o presidente sul-africano e que ainda aguarda o reembolso.