A violação dos direitos humanos da população negra, pobre e de periferia no Brasil e em outras partes do mundo será tema de uma semana de mobilização chamada Julho Negro que começa hoje (17) no Rio de Janeiro. Até sexta (21), protestos, pesquisas e ações de conscientização vão levar o tema a diversos pontos da região metropolitana.

Realizado pela primeira vez em 2016, o projeto é organizado por movimentos de familiares de vítimas de violência policial, fóruns de moradores de favelas e periferias e parcerias internacionais como o movimento antirracista americano Black Lives Matter, movimentos de imigrantes haitianos e militantes pelos direitos humanos da população palestina.

Assessor do Centro de Direitos Humanos da Diocese Nova Iguaçu, Fransergio Goulart disse que o movimento começa hoje com atos contra a discriminação de religiões de matriz africana e pela valorização da vida dos moradores de favela. Ao longo da semana, serão feitas homenagens às vítimas da Chacina da Candelária, que completa 24 anos no próximo dia 23. Amanhã,  às 16h, haverá um ato em frente à igreja, e no dia 21, missa no mesmo local.

“Queremos pensar a criação de uma frente internacional para discutir a questão do racismo e da militarização, porque a vemos processos semelhantes na Palestina, nas favelas do Rio e no Haiti”, disse Fransergio, que também é integrante do Fórum Grita Baixada e do Fórum Social de Manguinhos.

Estão previstas panfletagens contra o racismo na Central do Brasil e diálogos em favelas da capital e da região metropolitana. Questões de gênero também farão parte da programação, e mesa na quarta-feira à noite vai discutir machismo e masculinidades.

Na manhã de hoje, mães que perderam os filhos em ações policiais participaram de entrevista coletiva na Casa Pública, em Botafogo, para falar sobre a importância do projeto. Representando a Rede de Comunidades e Movimentos contra a Violência, Maria Dalva da Costa Correia da Silva denunciou que moradores de comunidades pobres do Rio muitas vezes são mortos pela cor de sua pele e pelo lugar onde moram.

“Cada vítima que se vai, não vai sozinha, ela arrasta amigos e familiares. É muito difícil para a mãe, que tem outros filhos e que perde trabalho, porque a família está destroçada”, disse a militante, que perdeu o filho Thiago na Chacina do Borel, em 2003. “Os policiais muitas vezes têm a mesma origem. E isso pra gente é muito triste. São pessoas pobres, de periferia”.

Coordenadora e fundadora do Movimento Mães de Maio, Débora Silva pediu que as pessoas enfrentem o medo e se juntem à luta pelos direitos humanos e contra o racismo: “Mesmo se a gente não for pra luta, a gente morre lentamente, porque o que nos mata é a impunidade”, disse ela, que perdeu o filho em maio de 2006, quando 564 pessoas morreram em operações policiais, ataques do Primeiro Comando da Capital e de grupos de extermínio (https://agenciabrasil.ebc.com.br/direitos-humanos/noticia/2016-05/crimes-…).