TÚNIS, 28 ABR (ANSA) – O marechal Khalifa Haftar se autoproclamou nesta segunda-feira (27) o novo líder da Líbia, afirmando ter recebido um suposto “mandato popular” para governar o país africano.   

O anúncio foi feito em um discurso televisivo, em meio à ofensiva de Haftar para tomar a capital Trípoli, que está sob poder do governo de união nacional reconhecido pelas Nações Unidas (ONU).   

No discurso, o marechal disse que o Exército Nacional Líbio, conjunto de milícias liderado por ele, aceitou a “vontade do povo de confiar-lhe a gestão dos assuntos do país nesta circunstância excepcional”.   

“Respondemos a seu chamado, anunciando o fim do acordo político que destruiu o país”, afirmou Haftar, em referência ao pacto assinado em 2015, no Marrocos, e que instituiu um governo de união nacional sob tutela da ONU.   

As forças do marechal, que controlam a maior parte da Líbia, iniciaram há cerca de um ano uma ofensiva militar para conquistar Trípoli, mas pouco avançaram na capital.   

Em resposta a Haftar, o Alto Conselho de Estado, uma espécie de Senado instituído em Trípoli, o acusou de declarar um “golpe contra a democracia”. “Isso só serve para encobrir suas repetidas derrotas”, disse o órgão.   

Já a União Europeia afirmou que acompanha “com grande preocupação” o desenrolar da crise líbia e cobrou o início de um “processo político” para pacificar o país.   

Em entrevista à ANSA, Giuseppe Dentice, analista do Instituto de Estudos de Política Internacional (Ispi), sediado em Milão, disse que Haftar teve de recuar e fazer seus aliados acreditarem que a autoproclamação do território por ele controlado era a “única solução possível”.   

De acordo com o especialista, o marechal entendeu que “não podia vencer a guerra no campo de batalha e que não gozava de relações diplomáticas suficientemente sólidas para lhe garantir a autonomia desejada”.   

“De fato, essa é uma derrota abrasadora mal disfarçada de vitória”, acrescentou Dentice.   

Entenda a crise – A Líbia se fragmentou politicamente após a queda de Muammar Kadafi, em 2011, e desde então é palco de conflitos entre milícias.   

De um lado, está o governo de união nacional guiado por Sarraj e apoiado pelos grupos armados de Trípoli e Misurata, e pela ONU; do outro, o Parlamento de Tobruk, fiel a Haftar, que tem apoio declarado do Egito e dos Emirados Árabes, além da aliança tácita com a Rússia.   

O marechal e o Parlamento de Tobruk não reconhecem a legitimidade do governo Sarraj – instituído por uma conferência de paz no Marrocos, em 2015 – e controlam a maior parte do país, principalmente o leste e o desértico sul.   

Ex-aliado de Kadafi, Haftar ajudou o coronel a derrubar o rei Idris, em 1969, mas rompeu com o ditador em 1987, após ter sido capturado no Chade. De lá, guiou, com o apoio da CIA, um fracassado golpe contra Kadafi. Por duas décadas, viveu como exilado nos Estados Unidos e ganhou cidadania americana. (ANSA)