“Por vias democráticas a transformação que o Brasil quer não acontecerá na velocidade que almejamos”. Um comentário desses seria passível de repúdio mesmo que feito durante uma conversa trivial. Vindo de um dos filhos do presidente da República, e dado o histórico de declarações do mandatário, só não se incomodam os muito ingênuos.

De fato, afirmar que hoje o Brasil possa se transformar em uma ditadura seria precipitado. O governo sequer conta com apoio popular para investir em uma guinada de tal monta e as instituições, prontamente, repudiaram a mensagem. De quebra, a credibilidade de Carlos Bolsonaro se confunde com a sua gana de chocar a sociedade. Contudo não é disso que se trata. Se o País ainda pretende vislumbrar um caminho alvissareiro, não só na economia, mas no respeito à democracia e ao zelo pela sua imagem no exterior — em apenas noves meses de governo já destroçada —, não se pode mais admitir esse tipo de comportamento.

Como era de se imaginar, um séquito de adoradores veio em socorro do vereador carioca. É incrível, pois neste caso, mera pachorra não seria justificativa o suficiente. Um elevado grau de analfabetismo é fundamental para que algum sujeito consiga ler a “pensata” sem enxergar nada de mais. Todavia, não faltaram ponderações de toda sorte, demonstrando que o limite para a subserviência e a atração pelo autoengano são infinitos.

Causou-me especial estupefação um discurso irritado de Eduardo Bolsonaro, aquele que o governo não vem medindo esforços para emplacar na embaixada em Washington. Segundo Eduardo, o irmão não escreveu “nada de mais”. E completou: “Esses aí, que até ontem ficavam mandando dinheiro para a Venezuela, amantes de ditadura”.

Deixando de lado a já conhecida armadilha que busca forçar o embate entre esquerda e direita, como se a conduta do PT em relação às ditaduras de esquerda no continente pudesse justificar a verborragia de Carlos. Impressiona o atrevimento daquele que pretende assumir o cargo mais alto da nossa diplomacia. Teria Eduardo esquecido que seu pai, assim como os famigerados petistas, com frequência adula a memória de ex-ditadores do naipe de Augusto Pinochet e Alfredo Stroessner? E que até já adulou Hugo Chávez? Carlos pode ser apenas boquirroto. Ou, como diz o ditado: “Quem sai aos seus não degenera”.

Entretanto, não cabe dar o benefício da dúvida ao vereador. Ultrajar-se contra esse tipo de postura é um dever.

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É preciso altas doses de analfabetismo político, subserviência ou autoengano para endossar as declarações do vereador Bolsonaro. Ele não merece o benefício da dúvida


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